Na era do streaming, entidades esportivas, clubes e ligas puderam falar diretamente com sua base de fãs. O estreitamento de vínculo deu menos peso à intermediação que era papel fundamental dos canais de TV. Essa visibilidade era caracterizada, na TV aberta, pela limitação de tempo de transmissão, mas com amplo alcance de público. Já a TV fechada oferecia maior possibilidade de interação, mas atingia menos torcedores.
Para se tornar atraente para a audiência, um esporte dependia excessivamente desse aval dado pelos meios de comunicação. Atualmente, não precisa mais, pois oferece um amplo espectro de possibilidades, cujas opções ainda estão sendo descobertas.
Os serviços de OTT, por exemplo, já possibilitaram que novas modalidades pudessem passar pelo crivo de audiências menores para, em caso de sucesso, atraírem a atenção dos veículos tradicionais. Modalidades como e-Sports se tornaram atraentes a partir desse modelo.
Ao ampliar as possibilidades de exibição de conteúdos audiovisuais diretamente aos fãs, as entidades esportivas enfrentaram novos desafios, especialmente aquelas modalidades que já tinham visibilidade na TV. A audiência estava acostumada a um nível profissional de transmissão nas emissoras tradicionais. Não aceitariam menos.
Os novatos desse mercado precisavam ser capazes de oferecer sofisticação semelhante. Não era possível amplificar a oferta de conteúdos sem manter a qualidade sob risco de fracasso do empreendimento e de uma chuva de críticas. Apenas modalidades com menor popularidade e fora das telas de TV podiam se dar ao luxo de realizar transmissões mais amadoras e sujeitas a falhas técnicas.
Nesse contexto, os gigantes do streaming mostraram que o interesse do público não se limitava a acompanhar a transmissão dos eventos esportivos. Havia também o interesse em conhecer os bastidores de clubes e competições. Produtos como o Drive to Survive (Netflix) e a série All or Nothing (Amazon Prime Video) tiveram grande sucesso, mostrando que havia novos nichos a explorar.
Hoje, é necessidade: ao lançar sua plataforma de streaming, é preciso oferecer esse tipo de conteúdo. A lição de casa foi feita pela FIFA quando lançou o FIFA+ tendo como carro-chefe uma série documental com Ronaldinho Gaúcho.
É o caminho que faz a Vicar para o lançamento da plataforma de streaming da Stock Car. Principal categoria do automobilismo brasileiro, com 44 anos de história, a iniciativa não poderia se limitar a transmitir corridas. Hoje, para ser relevante neste mercado, é preciso oferecer conteúdos adicionais, seja para rejuvenescer a base de fãs com histórias dos grandes ídolos do momento, seja para atrair o torcedor tradicional, interessado em relembrar as grandes façanhas da história da modalidade.
Adalberto Leister Filho é diretor de conteúdo da Máquina do Esporte