As pesquisas sobre o tamanho das torcidas agitam tanto os torcedores como gols duvidosos anulados com auxílio do VAR. Sempre que um novo resultado de pesquisa é publicado, a polêmica se reacende e as redes sociais ficam agitadas. Nenhum torcedor consegue absorver bem a redução do tamanho da sua torcida e também não aceita que o seu clube esteja atrás de um rival em número de torcedores.
Aqueles fanáticos que se sentem prejudicados logo encontram argumentos rasos para desacreditar o resultado da pesquisa. O torcedor diz que não acredita na pesquisa porque “não conhece ninguém que tenha sido entrevistado”, porque “nas ruas você vê muito mais camisas do seu time do que do rival”, ou porque “essas pesquisas sempre são armadas para favorecer ou prejudicar alguém”.
Antes de cairmos na mesma armadilha de simplesmente não confiar no resultado, devemos salientar que pesquisas quantitativas, feitas por institutos de pesquisas sérios, como essas que medem o tamanho das torcidas publicadas em grandes veículos de imprensa, são um instrumento extremamente valioso. No entanto, é importante destacar que essas pesquisas são feitas por amostragem. Ou seja, como seria impossível ouvir toda a população brasileira, é entrevistado um grupo menor de pessoas com as mesmas características de toda a sociedade (mesma faixa de idade, classe social, gênero, local de residência, etc.).
Dado que a pesquisa é feita em cima de estatísticas e não entrevistando toda a população, surge a margem de erro, que varia em decorrência da qualidade e quantidade da amostra entrevistada. Dessa maneira, é muito ruim utilizar uma pesquisa quantitativa para criar um ranking com diferenças tão pequenas entre um time e outro. Em alguns casos, se considerada a margem de erro, uma torcida pode estar ao mesmo tempo entre os primeiros ou entre os últimos do ranking.
Outro fator que não pode ser deixado de lado é o poder do futebol na cultura brasileira. Assim sendo, quando um indivíduo é questionado “para que time você torce?” ou “você torce para algum time?” Ele pode dizer o primeiro nome que lembra, mesmo não torcendo de fato para aquele clube. Como as pesquisas são uma fotografia de um determinado momento, uma boa fase de um time pode colocá-lo em evidência deixando as pessoas que têm menos conexão com o futebol mais suscetíveis a responder o nome da equipe que está em evidência no momento da pergunta.
A falta de definição do que é um torcedor de futebol pode transformar o resultado em pesquisa Top Of Mind, aquelas que você responde a primeira marca que vem em mente a respeito de um tema. Quer dizer que a pergunta “para que time você torce?” pode ser compreendida por alguns não fanáticos como “qual é a primeira marca que vem na sua cabeça quando falamos a palavra futebol?”. Isso leva a um viés para o resultado do ranking de torcidas.
Efetivamente, o tal ranking tem muito mais propósito para aflorar o debate entre os torcedores do que para as próprias agremiações. De nada adianta ter uma pesquisa que aponte milhões de fanáticos espalhados pelo país se o clube não consegue se comunicar com uma ínfima parcela deles. Os clubes deveriam investir muito mais em conhecer os seus torcedores, estabelecer diálogos transparentes e manter um cadastro atualizado de toda a sua base de aficionados. Só assim vai conseguir vender mais produtos, encher mais os estádios, aumentar o engajamento nas mídias sociais, expandir o quadro social e transformar os jovens em fanáticos. A antiga frase do saudoso Nelson Rodrigues, nunca fez tanto sentido: “Uma torcida não vale a pena pela sua expressão numérica. Ela vive e influi no destino das batalhas pela força do sentimento.” Conhecer profundamente e se aproximar do seu torcedor é muito mais valioso do que ter milhões de desconhecidos espalhados pelo globo.
Romulo Macedo é sócio-fundador da Fan Experience 360 e escreve mensalmente na Máquina do Esporte