“Temos um transatlântico nas mãos. Porque o São Paulo é um transatlântico. Mas não é fácil nem rápido manobrar e corrigir a rota de um transatlântico.”
A frase é do diretor de marketing do São Paulo, Eduardo Toni, e serve para ilustrar a maneira como o executivo enxerga o clube e o momento pelo qual o Tricolor Paulista passa atualmente. A Máquina do Esporte conversou com Toni no lançamento do SPFC Móveis, projeto de licenciamento para peças de mobiliário residencial de alto padrão feito em parceria com a Voila Arquitetura, há cerca de duas semanas.
De acordo com o executivo, a iniciativa veio ao encontro do que o São Paulo buscava no mercado. O clube possui uma série de licenciamentos, alguns recentes como GTSM1, Clube do Malte e Havaianas, mas estava atrás de algo que envolvesse produtos mais nobres ou, nas palavras de Toni, “com potencial para enobrecer a marca São Paulo”.
“É importante ter os produtos mais comuns, como cadernos, canecas, bolas. Mas queríamos achar algo diferente. Foi quando a Voila surgiu com a ideia do mobiliário residencial. Tivemos um ano e meio de conversas e ficamos muito felizes com o resultado”, revelou o executivo são-paulino.
A área de licenciamento é apenas mais uma das frentes em que o São Paulo trabalha há pouco mais de um ano e meio, desde que a equipe presidida por Julio Casares assumiu o clube. De lá para cá, segundo Eduardo Toni, foi preciso “tirar o atraso do básico”, pois o São Paulo, antes tido como exemplo de gestão, ficou para trás em relação a diversos outros clubes do país em uma série de temas.
Em cerca de 18 meses, o faturamento com patrocínios, por exemplo, quintuplicou, mesmo em meio à pandemia. Hoje, o clube possui patrocínio máster do site de apostas Sportsbet.io e ainda expõe no uniforme as marcas Bitso, Roku, Socios.com, Konami, ABC da Construção e Cartão de Todos, além da Adidas, fornecedora de material esportivo.
O trabalho, no entanto, ainda está longe de terminar. É aí que entra a frase sobre o transatlântico. A metáfora usada por Toni demonstra que o clube vinha navegando pela rota errada e precisou corrigir. A questão é que não é simples desviar a rota de um transatlântico.
“O mais importante hoje é que estamos no caminho certo. Nunca mais haverá, por exemplo, um caso como o da iSure. Desde que entramos, temos um trabalho sério de due dilligence [processo de investigação de uma oportunidade de negócio que o investidor deverá aceitar para poder avaliar os riscos da transação] e compliance [conjunto de disciplinas a fim de cumprir e se fazer cumprir as normas legais e regulamentares, as políticas e as diretrizes estabelecidas para o negócio e para as atividades da instituição ou empresa, bem como evitar, detectar e tratar quaisquer desvios ou inconformidades que possam ocorrer], ou seja, não haverá surpresas como a iSure”, enfatizou o diretor de marketing.
O caso da iSure ocorreu entre julho e agosto de 2020, ainda sob a gestão anterior. À época, o São Paulo fechou patrocínio com a empresa, uma consultoria especializada em gestão de benefícios e seguros, por seis meses, ou seja, até o final daquele ano para estampar a logomarca na parte superior das costas da camisa. No entanto, por falta de pagamento, o acordo durou apenas três jogos, todos pelo Campeonato Paulista.
Algum tempo depois, o Fantástico, programa da TV Globo, expôs um suposto estelionatário que teria dado um golpe no clube, entre tantos outros aplicados de maneira semelhante.
Com metade do mandato de Julio Casares pela frente, o São Paulo ainda pretende, nos próximos meses, anunciar novidades na área de franquia de lojas e também um novo licenciamento de marca “importante”, nas palavras de Eduardo Toni. Outras iniciativas também estão prestes a sair do papel, como a plataforma própria de streaming, ou já até saíram, como o hub de inovação Inova.São.
No fim das contas, tudo faz parte de um trabalho para “recuperar o tempo perdido” e colocar o clube para navegar em mares mais calmos nos próximos anos, em especial quando se pensa na questão financeira.
“O São Paulo precisa se posicionar como o transatlântico que é, um clube com milhões de torcedores espalhados pelo país. Queremos, cada vez mais, engrandecer a marca São Paulo e colocá-la no patamar em que já esteve um dia. É um trabalho que requer paciência, mas certamente posso afirmar que estamos no caminho certo”, finalizou Eduardo Toni.