Se a Copa do Mundo de 2026 já está batendo à porta, a de 2027 já desembarcou no aeroporto. E, ao que tudo indica, com destino certo: o coração do torcedor brasileiro.
A conquista da seleção brasileira feminina na Copa América, diante de uma Colômbia aguerrida e organizada, não foi apenas mais um título. Foi um marco. A primeira taça de uma nova era. A confirmação de uma geração que carrega não só talento, mas uma maturidade impressionante para quem mal começou a trilhar seu caminho no cenário internacional.
E o mais simbólico de tudo? Essa geração já chegou com cara de protagonista.
São jogadoras velozes, técnicas, inteligentes, taticamente afiadas e emocionalmente preparadas. Atletas forjadas em um ambiente de excelência, muitas delas sob o olhar atento e o trabalho refinado de Arthur Elias, um nome que, hoje, é sinônimo de transformação no futebol feminino brasileiro.
Arthur construiu uma dinastia no Corinthians. Ganhou títulos, sim, muitos. Mas, acima de tudo, formou atletas e pessoas com um nível de exigência e profissionalismo comparável aos maiores centros do futebol mundial. Agora, à frente da seleção, planta as mesmas sementes. E já colhe frutos.
A final contra a Colômbia foi mais uma prova disso. Um jogo duro, contra uma equipe que cresce a olhos vistos, que vem sendo valorizada e bem trabalhada. Mas o Brasil foi superior. Técnica e mentalmente. Jogou como grande. E ergueu a taça com autoridade.
No entanto, nenhuma taça na nossa história vem sozinha.
Ao lado dela, mais uma vez, estava Marta.
A inigualável. A imparável. A incomparável. A eterna Rainha.
Mesmo dividindo os holofotes com uma geração que começa a escrever sua própria história, Marta segue sendo o coração que pulsa mais alto em campo. Participou da decisão, orientou as mais jovens, correu, brigou, sorriu, chorou e, como sempre, emocionou.
Em uma entrevista recente, carregada de verdade, ela falou sobre como gostaria de ser lembrada. Não apenas pelas jogadas que encantaram o mundo, pelos prêmios ou pelos gols, mas pela sua luta por igualdade, por respeito e pela transformação que promoveu fora de campo. Pela voz que nunca se calou. Pelas portas que arrombou com talento e coragem.
Marta não é só uma atleta. Marta é um movimento. Uma ideia. Um símbolo.
Ela desafiou o que diziam ser impossível. Fez o Brasil e o mundo acreditarem que havia, sim, um lugar para todas. E que esse lugar não era à margem, mas no centro do gramado. Sob os holofotes. No coração da arquibancada. No meio da nossa identidade.
E talvez, quando o tempo passar, quando os novos nomes brilharem e os mais jovens apenas ouvirem falar de Marta nos livros e nos museus do futebol, alguém precise lembrar quem ela foi. Quando esse dia chegar, eu já sei o que vou dizer.
“Vem cá, meu filho. Senta aqui com o vovô. Deixa eu te contar uma história.
Teve uma mulher, uma vez, que nasceu em Dois Riachos, um lugar lá no interior de Alagoas. O mundo nem percebeu o que aconteceu naquele dia, mas o futebol tinha acabado de ganhar sua maior estrela.
Ela começou jogando descalça, em campo de terra batida. Driblava todo mundo. Até o destino.
Jogou várias Copas do Mundo, encantou torcidas em todos os continentes, ganhou mais prêmios do que dava pra contar. Mas o maior troféu dela não cabia em uma estante: era o poder da mudança.
Lutou por salários justos, por respeito, por espaço. E quando ninguém acreditava, ela acreditava por todas.
O nome dela era Marta. Mas o povo chamava de Rainha. E sabe o que é mais bonito? Ela nunca precisou de um trono. Bastava uma bola e um campo.
E onde ela pisava, o futebol virava poesia.“
Marta foi, é e sempre será essa poesia viva. E se hoje o futuro do futebol feminino brasileiro parece tão promissor, é porque ela e tantas outras se recusaram a aceitar menos.
O futuro já chegou. A nova geração está pronta. E a lenda, ah, a lenda Marta ainda nos dá o privilégio de podermos reverenciá-la em campo.
Lênin Franco é especialista em marketing esportivo, possui MBA em Gestão de Projetos e trabalha no mercado do futebol desde 2006. Chegou ao Bahia em 2013 como gerente de marketing e, na sequência, passou a comandar o departamento de negócios. Em 2021, chegou ao Botafogo como diretor de negócios e ajudou o clube a se estruturar para a chegada do investidor John Textor. Em 2022, assumiu a diretoria de negócios do Cruzeiro, integrando o time de dirigentes da SAF Cruzeiro. Por fim, em 2023, assumiu as áreas de marketing e comercial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), liderando principalmente a renovação do contrato da Nike com a entidade. Atualmente, é sócio da 94 Marketing & Football
Conheça nossos colunistas