A importância da imprevisibilidade para a economia do futebol brasileiro

Podemos afirmar que o conceito de Economia do Esporte começou com Simon Rottenberg, quando escreveu sobre o mercado de jogadores de beisebol em um artigo semanal no “Journal of Political Economy“, em 1956.  Nele, Rottenberg afirmava que a economia do esporte poderia ser analisada como qualquer outra indústria tradicional, salvo algumas diferenças, na qual eu destaco o “Princípio da Incerteza do Resultado”. 

O conceito é simples. Segundo o autor, um dos principais fatores de atração nas competições esportivas é a incerteza sobre o resultado do jogo ou da competição. Essa imprevisibilidade aumentaria a disposição do torcedor em acompanhar determinada modalidade ou torneio. 

Esse princípio tem uma implicação fundamental na Economia do Esporte. Baseado nesse argumento, equipes e atletas muito superiores aos seus rivais tirariam a atratividade da modalidade e com isso afastaria o torcedor, os patrocinadores e, consequentemente, as receitas.

Assim sendo, para evitar a dominância de poucos, as ligas deveriam ser estruturadas e criar mecanismos de “ajuda” para manter o chamado equilíbrio competitivo da competição.

Baseado no “Princípio da Imprevisibilidade” e na necessidade de se manter o equilíbrio esportivo, que as grandes ligas americanas criaram maneiras para evitar o distanciamento técnico de uma única equipe.

Os modelos de drafts, em que os piores colocados do ano anterior escolhem primeiro os futuros jogadores, o compartilhamento de diversas receitas e o teto salarial são exemplos de ferramentas adotadas nos EUA para manter a paridade das suas ligas esportivas. A preocupação com a distribuição justa de receitas é tamanha que até parte dos recursos da venda de ingressos para os jogos é repartida de forma igualitária entre todos os times nas principais ligas.

Passados muitos anos da publicação do artigo Simon Rottenberg, foram detectados outros fatores que hoje se mostram até mais relevantes no poder de atrair o interesse do público para um determinado esporte.

Em pesquisa realizada pelo professor Kirk Wakefield e publicada em 2007, no livro “The Wages Of Wins”, foram identificados dois motivos para o torcedor acompanhar a Major League Baseball (MLB), nos Estados Unidos: grandes atletas e a qualidade dos estádios.

Estrelas mundiais e grandes equipes também justificam o enorme interesse por campeonatos nacionais dominados por poucas equipes. Se examinarmos as competições de futebol mais assistidas do mundo, a Premier League (Reino Unido), a LaLiga (Espanha) e a Bundesliga (Alemanha), todos possuem poucas, mas excepcionais, equipes dominantes.

Mesmo em modalidades individuais, os astros mundiais muito acima da média, como Michael Phelps e Usain Bolt, são capazes de chamar a atenção de milhões de pessoas nas suas competições mesmo sendo certeza de vitórias. 

Se trouxermos todos esses princípios e fatores para analisarmos o cenário do futebol brasileiro, percebemos que existe uma recente quebra do fator imprevisibilidade, com o domínio recente de poucos clubes. No entanto, ainda não temos estrelas de nível mundial jogando nos gramados do país e os estádios, apesar de estarem muito melhores, ainda não estão no mesmo nível de serviço dos equipamentos norte-americanos.

Diante da imensa dificuldade de manter e trazer grandes estrelas do futebol mundial e montar equipes capazes de atrair atenção de todo o mundo, a simples quebra da imprevisibilidade esportiva ameaça um pilar fundamental de sustentação do futebol brasileiro. Assim corremos um sério risco de caminharmos a médio prazo para um campeonato desinteressante para públicos e marcas. 

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