A Web3 no esporte e as infinitas possibilidades da tokenização

Você, a essa altura, provavelmente já deve ter ouvido falar de Web3, NFTs, fan tokens, criptomoedas e tudo mais. Porém, acredito que ainda possa estar confuso sobre o que cada termo significa, de que maneira isso impactará o esporte, por onde começar e tudo mais. Minha intenção neste espaço mensal dado pela Máquina do Esporte a partir de hoje é clarear as coisas, desmistificar, mostrar o que tem sido feito no esporte e, principalmente, o que podemos esperar daqui para frente. Como meu próprio título já adianta, são infinitas possibilidades.

Para começar, neste primeiro momento serei um pouco mais didático, explicando algumas nomenclaturas e definições. A Web3 é a terceira geração da internet, onde a relação entre artistas, atletas, organizações esportivas e marcas com seus fãs, torcedores e clientes é direta, sem intermediários ou com intermediários tendo um papel secundário. A principal característica da Web3 é a descentralização, a transferência de poder de poucas plataformas (as chamadas Big Techs) para os usuários destas plataformas, que passam a ter voz ativa, participando da criação e sendo donos de fato de conteúdos, produtos e serviços, eventualmente até compartilhando do sucesso destas iniciativas, inclusive o financeiro. Por isso, falamos que a Web3 é a camada de propriedade da internet.

Tudo isso é possível por meio de uma tecnologia, a blockchain, que, de forma bastante resumida, é uma rede distribuída e descentralizada capaz de rastrear o envio e o recebimento de informações. Cada atividade desta é uma transação; cada transação é agrupada em blocos (block) e colocada em uma corrente (chain) de blocos, daí o nome. O mais importante, porém, é saber que uma blockchain é uma rede pública (transparente) e imutável (uma vez registrada a transação, não é possível modificá-la).

Existem várias blockchains, cada uma com suas próprias características, vantagens e desvantagens, e você precisa entender qual é a que se encaixa melhor nos objetivos da sua aplicação antes de seguir em frente. Sobre uma blockchain, são emitidos tokens, que nada mais são do que representações digitais de ativos reais ou ativos puramente digitais registrados nesta rede pública e imutável. Existem tipos diferentes de tokens, como tokens de pagamento (criptomoedas) e utility tokens.

Criptomoedas servem basicamente para duas funções: meio de pagamento e reserva de valor.

Utility tokens, como o nome já diz, são tokens de utilidade, ou seja, são ativos que desbloqueiam, por exemplo, acesso a comunidades, experiências exclusivas, poder de voto (governança), participação em receitas futuras e mais.

Fan tokens, como o da Socios.com, empresa que trabalho, são tokens de utilidade; apesar de terem variação de preço, provocada por oferta e demanda, não são produtos de investimento; são produtos de engajamento de torcedores com organizações esportivas, que permitem a participação em votações especiais e o resgate de inúmeros benefícios. Falarei de forma mais profunda sobre eles em colunas futuras.

Há ainda outra diferenciação importante a ser feita, entre tokens fungíveis e não fungíveis. Algo fungível é algo cujo valor é intercambiável, ou seja, independentemente de estar na minha carteira ou na sua, ele sempre terá o mesmo valor. Uma nota de R$ 100, por exemplo, é fungível, porque ela sendo uma nota nova ou antiga, amassada ou lisa, em minha posse ou sua posse, sempre valerá R$ 100. Um bitcoin e um fan token são tokens fungíveis. Já os tokens não fungíveis, os famosos NFTs, são ativos únicos, com seu próprio número de identificação. Mesmo que visualmente sejam idênticos, cada um terá um token ID (registro na blockchain) diferente, assim como gêmeos idênticos possuem um CPF cada.

Os NFTs, atualmente, são muito vinculados a colecionáveis digitais, mas já há aplicações atreladas a clubes de fidelidade, experiências especiais, ingressos, certificados de participação em eventos e conclusão de cursos, certificados de autenticidade de itens físicos, participação em receitas futuras, como royalties de streaming, e diversas outras. O que é importante ressaltar aqui é que tokens fungíveis e não fungíveis cumprem funções diferentes, e não só podem como devem caminhar em conjunto. São complementares.

Estamos vivendo os primeiros dias da Web3, onde existem pouquíssimas certezas e muitas opiniões. É uma fase de experimentação, erros e aprendizados, e ouso dizer que ainda nem é possível mensurar e prever com exatidão o que virá nos próximos anos. E é justamente aí que está a grande beleza de tudo isso.

O momento para entrar nesse universo fascinante da Web3 e explorar as infinitas possibilidades é agora. Mas lembre-se: é uma maratona, não 100 metros rasos. Não pense apenas em gerar receita alta e rápida, porque isso não acontecerá. Pense em começar a construir um caminho de relacionamento direto com seus fãs, torcedores e clientes, porque o verdadeiro prêmio virá ao longo do tempo.

Na minha próxima coluna, começarei a falar de cases específicos de aplicação de blockchain no esporte. Até lá!

Felipe Ribbe é jornalista formado pela PUC-Rio e pós-graduado em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, com passagem por Sportv, Liga Nacional de Basquete (LNB) e Atlético Mineiro (primeiro time brasileiro a adotar os fan tokens). Entusiasta das inovações que ainda estão por vir, vivencia a tecnologia ao mesmo tempo em que aprende e ensina diariamente. Atualmente, é diretor geral da Socios.com no Brasil e passará a escrever mensalmente na Máquina do Esporte

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