Afinal, Eliud Kipchoge é o novo recordista da maratona ao cravar 2h00min25s na prova montada pela Nike no autódromo de Monza? Não.
Então o projeto Breaking2 não passou de uma grande farsa promovida pela marca? Também não.
A barreira das duas horas na maratona é um sonho antigo do ser humano e um limite que um dia será quebrado. Algo como foram, no passado, os 10 segundos nos 100 metros ou os 4 minutos na milha.
Mas, para que esse recorde seja oficializado, é necessário obedecer às regras da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo). A prova, por exemplo, tem que contar com medição oficial e o evento precisa constar no calendário de provas do atletismo.
Algumas dessas normas não foram obedecidas pela Nike. Na pista, o queniano Kipchoge, o etíope Lelisa Desisa e o eritreu Zersenay Tadese em nenhum momento competiram entre eles, mas contra a barreira dos 120 minutos.
Sinais no asfalto indicavam o ritmo a ser seguido. Uma equipe de coelhos, comandada pelo grande Bernard Lagat, se alternou na pista para diminuir os efeitos do vento sobre os atletas. Fisiologistas administravam suplementos especialmente preparados para cada fundista. Mesmo assim, Desisa e Tadese quebraram. Isso só aumentou a responsabilidade de Kipchoge.
Sim, a Nike promoveu toda essa operação com fins mercadológicos. A gigante do material esportivo está interessada em conquistar uma fatia maior do lucrativo mercado running. Só nos Estados Unidos, o segmento faturou US$ 2,75 bilhões (R$ 8,74 bilhões) no ano passado.
Seu trunfo para isso é o polêmico Zoom Vaporfly Elite utilizado no Breaking2, ainda não aprovado pela Iaaf. O tênis impulsiona o corredor à frente e, segundo a marca, economiza 4% de energia.
Nada disso tira o brilho da façanha de Kipchoge. Mesmo sem constar no registro dos recordes mundiais, o queniano colocou seu nome na história da prova. O limite está cada vez mais perto de ser superado.