Há algumas semanas, o Corinthians tem feito uma enorme festa a cada partida. Os refletores do estádio se apagam para um show de luzes e fogos, com gritos nas arquibancadas, fumaças e mosaicos nas cadeiras. Foi assim no último sábado (30), pelo Campeonato Brasileiro, foi assim contra o Santos, pela Copa do Brasil. Mas, nesta terça-feira (2), a celebração será mais modesta no mais importante desses duelos, o jogo contra o Flamengo pela Libertadores. Trata-se de uma imposição da Conmebol.
As festas rodam pelos gramados brasileiros, mas o caso de Corinthians e Flamengo é especialmente curioso porque a própria Conmebol usou a festa dos torcedores para promover a partida. Em vídeo institucional publicado nas redes sociais da entidade, jogadores das duas equipes se misturam com fãs para tocar instrumentos e proclamar gritos populares das duas maiores torcidas do país.
Não é por acaso. A Conmebol sabe que a festa dos torcedores é o maior patrimônio do futebol sul-americano. Não tem como não saber. A presença de astros como Arturo Vidal, no próprio Flamengo, ou Luis Suárez, no Nacional, do Uruguai, não se compara ao poder de espetáculo que as torcidas e “hinchadas” promovem na região. Não há nada parecido no mundo do futebol.
O problema é que, diante de situações que saíram do controle, a Conmebol opta pela proibição sistemática de artigos simples e inofensivos. Os fogos e sinalizadores, mesmo promovidos de forma oficial, são deixados de lado por um acidente em que um torcedor entrou no estádio com um disparador de 20cm usado em emergências para navios. As “ruas de fogo”, as festas para as chegadas dos ônibus com os jogadores, foram colocadas para escanteio porque uma desorganização local impediu a realização de uma final.
Obviamente, são casos graves. Mas a solução passa por medidas pouco complexas, sem tirar a essência do futebol sul-americano. Soluções preguiçosas acabam por diminuir aspectos que a própria Conmebol tenta enaltecer. Fica um discurso um pouco artificial, para dizer o mínimo.
E, pior, sem gerar uma regulamentação específica, algumas atitudes se repetem sem controle. A torcida do River Plate já fez, na atual edição da Libertadores, uma festa com dezenas de sinalizadores no estádio. A mesma torcida, também neste ano, disparou um sinalizador marinho em jogo contra o Boca Juniors, pelo Campeonato Argentino. Ou seja, o que se faz, concretamente, para que uma tragédia não se repita?
A relação do sul-americano com o futebol é diferente da maior parte do mundo. Os cantos, as bandeiras e as pirotecnias são o que fazem desse esporte algo especial por aqui. Não são os jovens talentos nem os grandes astros que retornam. Para ver craque, o torcedor assiste à Champions League. É preciso valorizar esse sentimento do fã para muito além de um slogan bonito ou um vídeo em uma rede social.
Duda Lopes é CEO da Pivô Comunicação e escreve mensalmente na Máquina do Esporte