Como vender um atleta? Esta é uma das perguntas que mais ouço, uma armadilha fácil para uma resposta que ainda é muito utilizada: chamar o atleta de produto, como um objeto moldado por patrocinadores, mídia, pela e para a indústria do esporte, algo que não se encaixa mais com o que vivemos.
Atleta não é produto.
O atleta transcende a função de executor de habilidades físicas e cabide de marcas. Atletas são genuínos, autênticos e, justamente por isso, impactam e se conectam naturalmente com o público de uma forma que vai muito além da troca entre marcas e paixão esportiva: o “endorsement” mudou.
A capacidade de vencer adversidades, trabalhar arduamente para alcançar os objetivos e demonstrar resiliência diante de desafios, as histórias de superação, o exemplo de dedicação, como vencer lesões graves ou lutar contra dificuldades financeiras, são narrativas que ressoam com muitos, fornecendo esperança e motivação.
Mas a diferença hoje está, especialmente, no que aquele atleta faz com o holofote que está sobre ele: usar essa luz para devolver ao esporte o que o esporte fez por ele, muitas vezes dando voz a quem não tem, seja engajando, seja trabalhando em parceria com as marcas para contribuir com a comunidade de alguma forma.
Sim, valores como disciplina, perseverança e paixão conectam-se profundamente com os indivíduos e comunidades que os admiram, e aliar essa conexão a ações genuínas, ao usar o esporte como plataforma para transformação, é cada vez mais comum. E duradouro.
É cada vez mais importante trazer o lado humano real dos atletas para jogo, afinal, eles nem sempre estarão no pódio a todo momento. Pessoas e empresas cada vez mais entendem que não é somente a vitória que interessa, que o público se conecta com a jornada e, principalmente, com o movimento genuíno e autêntico da pessoa que a realiza.
E é justamente essa ligação com o humano, e não com o produto, que ressoa, pois é por meio da atitude que os atletas transmitem mensagens poderosas e inspiradoras que são essenciais não apenas no esporte, mas na sociedade como um todo.
Seja a recordista de medalhas olímpicas do país, Rebeca Andrade, que furou a bolha do esporte mundial conquistando seis medalhas olímpicas após três cirurgias de rompimento de ligamento cruzado anterior total do joelho direito, lutando contra adversidades desde muito pequena e mostrando que, sim, é possível chegar lá; seja o medalhista de bronze Bruno Fratus, que abriu mão de sua quarta participação olímpica em função da saúde mental; seja ainda Ana Sátila, que, incansavelmente, buscou o pódio em Paris 2024 e, ainda que desta vez não tenha alcançado, ganhou o coração do público por tamanha dedicação ao encarar um número infindável de provas.
Atleta é motivo de inspiração. E, definitivamente, não, atleta não é produto.
Danielle Von Schneider é fundadora e CEO da Agência de Atletas, empresa responsável pelo gerenciamento de carreira e imagem de atletas como Rebeca Andrade, Duda Lisboa, Rafaela Silva, Bia Souza, Ana Marcela Cunha, Gui Santos, Bruno Fratus e Alison Mamute, entre outros, e escreve na Máquina do Esporte