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Botafogo, Flamengo, Fluminense e os entraves do futebol como negócio no Brasil

Clubes do Rio de Janeiro, em diferentes escalas, mostram como é difícil tratar o futebol de forma mais profissional

Flamengo e Fluminense se enfrentaram pela 15ª rodada do Brasileirão 2025, no Maracanã - Adriano Fontes / Flamengo

Botafogo, Flamengo e Fluminense mostraram, em uma mesma semana, que o futebol brasileiro ainda tem um longo caminho a ser percorrido em busca de um maior entendimento de que ele é um negócio que precisa ser tratado como tal.

Da disputa pelo papel do Botafogo e o controle acionário da Eagle, holding controladora do clube, passando pela eterna divisão de receitas da liga de clubes com o Flamengo e chegando ao embate sobre a proposta de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Fluminense, é possível entender por que é tão difícil enxergar o futebol como negócio por aqui.

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Enquanto John Textor luta com a Eagle Football Holdings para seguir à frente do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro, o ex-presidente que aumentou sensivelmente a dívida do clube quando esteve à frente do time da Estrela Solitária, tem vazado na imprensa áudios comentando detalhes da briga dos acionistas. Por mais que seja uma SAF com 90% de controle nas mãos de investidor privado, o Botafogo segue na gangorra de emoções reveladas por dirigentes amadores.

O Flamengo, por sua vez, decidiu colocar fogo no parquinho da Libra. A nova gestão da equipe rubro-negra não quer saber de manter o que foi acordado pelo antigo presidente, e o impasse na Justiça pode significar mais um “volte duas casas” no jogo da criação de uma entidade comercial única para representar, pelo menos, os 20 clubes da Série A do Brasileirão. Após aumentar seu contrato de patrocínio, o Flamengo decidiu puxar ao máximo a corda do lado do seu maior contrato de mídia.

O Fluminense é outro que mostra um caminho de profissionalização que, pelo menos em um olhar mais cuidadoso, revela um perigo tão grande quanto o de Botafogo e Vasco. A proposta de SAF do clube surge no meio de uma disputa eleitoral, e a proposta na mesa do Conselho do tricolor carioca parece linda, mas não é tanto assim. No final das contas, o projeto da SAF lembra bastante aquele que foi feito com o Cruzeiro.

O investidor entrou pagando um valor que, claramente, está abaixo daquele que o tamanho e o potencial de negócio do time das Laranjeiras consegue trazer. E, para piorar, o maior ativo que existe atualmente, que é a categoria de base, está sendo entregue a preço de banana para os investidores.

Com as condições apresentadas, a SAF não é tábua de salvação para o clube, que seguirá a depender do próprio mercado para ter capital de giro. É o mesmo modelo que acontece atualmente, com a diferença de que o lucro, em vez de ser reinvestido no próprio negócio, pode ir parar nas mãos dos novos donos.

O futebol brasileiro tem potencial para ser o maior gerador de receita do mundo. Mesmo com a diferença de poder aquisitivo em relação à Europa, temos um mercado consumidor maior do que qualquer outro país.

A Inglaterra se tornou o grande centro econômico do futebol quando os dirigentes colocaram na cabeça que o coletivo vem à frente do individual. Isso transformou o negócio do futebol inglês, e, hoje, investidores profissionais buscam a Premier League para estar no centro da bola.

Com uma mentalidade parada nos anos 1980, o Brasil ainda é um universo perfeito para aventureiros, falando inglês ou não, conseguirem muito dinheiro com baixíssimo investimento e um produto ainda semiprofissional.

Se quisermos fazer com que o negócio do futebol brasileiro prospere, pouco adianta uma legislação que traga investidores privados para cá. É preciso entender e tratar o futebol como um negócio feito para gerar receita para todos e, assim, ter um produto cada vez melhor e mais desejado.

Em uma mesma semana, Botafogo, Flamengo e Fluminense mostraram, em diferentes escalas, como o negócio segue sendo maltratado por aqui.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo

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