Durante três anos, os clubes de futebol do Brasil discutiram a criação de uma liga para representar seus interesses comerciais e organizar o Campeonato Brasileiro. Durante todo esse tempo, propostas mirabolantes, jogos de cena, empréstimos garantidos e cessões de direitos a preços irrisórios minaram qualquer tentativa de união dos clubes e transformaram o que seria um projeto de liga em um verdadeiro Frankenstein.
O Brasileirão do ciclo 2025-2029 será um torneio de todos. E de ninguém.
Até agora, a única certeza que existe é de que a Globo transmitirá os jogos de alguns clubes da Série A. Não se pode dizer ao certo quantos serão. Talvez nove, ou mais, ou menos. A Libra fechou um acordo que hoje engloba oito equipes. E isso deu um norte para o que deve acontecer na discussão da venda de direitos do torneio.
Para além disso, outro fato consumado é que os clubes da Liga Forte União (LFU), precisando de dinheiro, venderam 20% dos seus direitos de mídia, por 50 anos, para fundos de investimentos. Em troca da cessão dos direitos, receberão por ano o equivalente a 3% do que recebem hoje de mídia do Brasileirão. Ou seja. Desvalorizaram o produto para pegar um dinheiro na mão e queimar em contratações e inchaço de folha de pagamento.
Outra aberração do Brasileiro é o fato de que as placas de publicidade estática, que, em toda e qualquer competição, são vendidas pelo detentor dos direitos do evento em projetos de patrocínio, também são de todos. E de ninguém. Alguns clubes já assinaram com a Brax a cessão desses direitos, sendo o Bahia o novo integrante da lista. O Palmeiras está com a Sports Hub. E ainda há uma porção de clubes sem qualquer acordo.
O Brasileirão, enfim, será um torneio que terá propriedades distintas sendo negociadas por diferentes empresas e clubes. Sem qualquer padrão de comunidade visual, sem qualquer entendimento de que o bolo sempre será maior se todos se preocuparem em trazer todos os ingredientes para a mesa e, juntos, colocarem a massa no forno.
O futebol brasileiro está sem dinheiro, sem projeto e sem propósito. Por incrível que pareça, isso acontece no momento em que alguns clubes do país estão faturando como nunca. O problema é que outros clubes também devem como nunca. E precisam pagar de algum jeito essa dívida.
Enquanto não houver comprometimento com a gestão, os clubes estarão fadados a fazer uma colcha de retalhos para tentar organizar suas contas. E o remendo da vez foi pegar o projeto de liga do Brasileirão e transformá-lo em um produto de vários donos.
Isso nunca deu certo.
Até 2029, pelo menos, continuaremos a ver um Brasileirão que tinha potencial para ser enorme. Terminará como sempre é. Um campeonato de bairro, organizado por amadores e sem qualquer noção de que o bolo de dinheiro que entra hoje poderia ser muito maior se houvesse, no mínimo, noção de como gerenciar o futebol.
O cavalo passou selado mais uma vez. Quando ele voltará?
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo