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Flamengo bagunça o tabuleiro

Pode parecer, mas o mercado não está jogando dinheiro para o alto; clube rubro-negro é exceção porque se tornou uma plataforma de mídia, ativação e experiência robusta que desperta a atenção do mercado publicitário

Flamengo apresentou detalhe do patrocínio máster da Betano - Reprodução / Instagram (@flamengo)

O Flamengo anunciou, na semana passada, após aprovação no Conselho Deliberativo, um acordo de patrocínio máster com a plataforma de apostas Betano até o final de 2028. Com valores que superam os R$ 250 milhões por ano, o clube “jogou para o alto” todas as peças do tabuleiro que compõem o futebol brasileiro com o mercado de apostas. 

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Faço essa analogia porque, no futebol brasileiro, temos uma disputa que ocorre toda rodada dentro de campo, mas também temos nos bastidores uma queda de braço entre os dirigentes para ver qual clube consegue maiores contratos de patrocínio.

No caso das apostas esportivas, isso fica ainda mais evidente, pois é o único segmento que a comparação é fácil de se fazer. Hoje, praticamente todos os clubes no futebol brasileiro possuem contratos com empresas do setor.

Em uma única jogada, o Flamengo mais que dobrou o valor do seu principal patrocínio. E, a partir desse momento, os dirigentes dos outros clubes já se perguntam: qual é o caminho para um movimento pelo menos próximo dessa proporção de crescimento?

Clubes que há cinco anos ganhavam R$ 3 milhões de máster, em um segundo momento, com o mercado das bets, passaram a R$ 10 milhões, hoje estão em R$ 20 milhões / R$ 25 milhões, e devem imaginar que a próxima onda fará isso virar R$ 40 milhões.

Ou clubes maiores que tinham R$ 15 milhões até pouco tempo, saltaram pra 30 milhões e depois pra R$ 50 milhões / R$ 60 milhões, devem estar se questionando o que farão para beliscar algo próximo de R$ 100 milhões.

Conheço cabeça de dirigente. “Se o clube A tem X, o meu não pode ter menos de Y”. É assim em todos os estados.

Mas, no meu entendimento, isso não vai acontecer. Não vejo uma nova onda de maximização de valores de patrocínio chegando ao mercado. 

Por exemplo: quem tem R$ 30 milhões, renovará por R$ 50 milhões. Ou quem tem R$ 70 milhões, buscará R$ 100 milhões. 

O mercado não está jogando dinheiro para o alto como há dois ou três anos, em que os clubes eram disputados quase como em um leilão. 

Com a regulamentação iniciada em janeiro, o mercado deu uma limpada significativa. Parte das empresas que estavam no Brasil deixaram de atuar por aqui, e as que aplicaram para licença entenderam que, agora, virou negócio, e não dá para sair comprando ativo sem uma estratégia e uma inteligência de negócio por trás. 

Com o aumento das taxações dos ganhos dessas empresas sendo discutido em Brasília, algumas casas de apostas estão inseguras de fazer grandes investimentos no Brasil. 

Sem dúvida, haverá espaço para crescimento, mas não na proporção do rubro-negro carioca.

Ah, mas por que o Flamengo conseguiu? 

Porque o Flamengo se tornou uma plataforma de mídia, ativação e experiência robusta que desperta a atenção do mercado publicitário. Principalmente do segmento de apostas. Então, é um produto desejado. Tanto que proporcionou ao clube abrir uma concorrência para escolha da marca. 

Some uma torcida imensa a um elenco fortíssimo, repleto de estrelas, audiências enormes, capilaridade nacional, potência nos esportes olímpicos e uma plataforma digital de impressionar. Fora toda plataforma de experiências e oportunidades de ativações. 

Justificar 100% de crescimento para o Flamengo é relativamente fácil. Difícil é fazer a defesa e justificar 25% de crescimento para alguns clubes no Brasil. 

Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência de marketing esportivo especializada em intermediação e ativação no esporte, que conecta atletas e personalidades esportivas a marcas

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