Há cerca de um ano, 12 grandes clubes do futebol europeu anunciaram a criação da Superliga Europeia. À época, escrevi um artigo sobre o tema, caso queira dar uma refrescada na memória. Resumidamente, o objetivo seria romper com a UEFA, e consequentemente com a Champions League, para “proporcionar um espetáculo melhor ao torcedor”, segundo o líder Florentino Pérez, presidente do Real Madrid. Após dois dias de enorme pressão popular, a proposta foi cancelada… ou postergada. Mas causou resultados importantes dentro e fora das quatro linhas.
Já ouviu falar de um estudo independente conhecido como Fan-Led Review of Football Governance? Esse relatório feito pelos fãs e organizado por Tracey Crouch, membro do Parlamento do Reino Unido desde 2010, traz dez recomendações estratégicas a respeito do futuro do futebol inglês. No final de 2021, ele foi finalizado e, na semana passada, recebeu oficialmente o apoio do governo britânico.
A iniciativa não surgiu “do nada” e teve como motivação três grandes acontecimentos. O primeiro foi o colapso do Bury Football Club, fundado em 1885 e extinto na temporada 2018/2019, causando um enorme impacto na economia e na comunidade locais, deixando para trás uma base de fãs. Em seguida, a Covid-19, que fez com que muitos clubes enfrentassem uma situação financeira complicada. E, por fim, a tentativa de criação da Superliga Europeia.
De forma resumida, o documento inclui sugestões para a criação de um regulador independente para garantir a sustentabilidade financeira do jogo, proteções adicionais para patrimônios dos times, distribuição mais justa do dinheiro, compromisso de trabalhar com os órgãos responsáveis e a polícia para administrar a venda de álcool e maior consulta aos torcedores. Gostaria de me aprofundar somente no último tema, mas, para quem quiser ver o documento por completo, ele está disponível neste link.
O capítulo 7, de nome Improving Supporter Engagement (Melhorando o Engajamento do Torcedor, em tradução livre), divide suas recomendações em 33 tópicos. Ele basicamente explica que a relação do clube com o torcedor deve ser de parceria. O fã traz renda, é parte da cultura da instituição e, portanto, deve contribuir com sua opinião. Dessa forma, o time divide a responsabilidade das decisões, tanto as boas quanto as ruins. Isso pode ser feito por meio de reuniões periódicas, com um Fan Elected Director (FED), nada mais do que um diretor eleito pelos próprios fãs, os representando.
O texto também fala da criação do Shadow Board, uma “diretoria da sombra”, com o objetivo de melhorar a transparência entre o clube e o torcedor. Ela deve ser composta por um grupo de 5 a 12 membros eleitos em um processo democrático, tendo um representante oficial. Todos devem ser trocados de tempos em tempos, sendo obrigatórias reuniões periódicas com executivos e o presidente do time.
A Shadow Board também visa oferecer aos torcedores a oportunidade de serem consultados sobre algumas das principais decisões da instituição, como visões e objetivos; planos de negócios; questões de estádio e matchday; patrimônio; marketing e patrocínio; e planos de sócio-torcedor.
Ao que me parece, o modelo britânico é simples, economicamente justo e deve ser seguido de forma igual por todos os times. No Brasil, sabemos que cada diretoria possui suas regras próprias para formação do conselho e eleição do presidente, mas creio que um conselho paralelo de torcedores, como existe na Terra da Rainha, não faria mal a ninguém.
Uma sugestão para quem quiser incorporar o conselho de torcedores seria abrir a possibilidade de candidatura e votação para quem for membro do programa de sócio-torcedor há pelo menos seis meses ou um ano. Dessa forma, além de estreitar a relação com o clube, tal ação também traria mais receita.
E você, o que pensa sobre o assunto? Acha viável incluir esse conselho?
Até a próxima!
Reginaldo Diniz é cofundador e CEO do Grupo End to End e escreve mensalmente na Máquina do Esporte