Quem acompanha futebol pelas redes sociais foi surpreendido com um comunicado para lá de bizarro no último sábado (14). Os perfis oficiais da Copa do Brasil, que eram geridos pela agência Klefer, contratada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), passaram a se chamar “Portal da Torcida” e não têm mais nada a ver com a competição.
“Por motivos contratuais, a Klefer informa que, a partir deste momento, os perfis oficiais da Copa do Brasil passam a se chamar Portal da Torcida, onde poderão ser encontrados conteúdos diversos sobre o mundo do futebol”, informou a agência.
Além de serem contas verificadas, com direito àquele selinho azul de oficial, tais perfis contam com alto engajamento da torcida, conquistado durante anos de trabalho. No Instagram, são 1,5 milhão; no Facebook (onde a página ainda conserva o nome Copa do Brasil), 1,185 milhão; no TikTok, 768,4 mil; e no Twitter, 673,1 mil. Juntos, são mais de 4 milhões de seguidores.
Para tentar justificar a tomada do ativo, a Klefer afirmou que, nas últimas oito temporadas, “foi pioneira e desenvolveu um trabalho de destaque no universo esportivo com gestão de marca, ações, ativações e conteúdo digital da Copa do Brasil, através de uma comunicação leve, extrovertida e próxima a vocês”.
Méritos da Klefer, claro. A Copa do Brasil é um evento precioso justamente porque consegue conversar com o fanático de futebol dos mais longínquos rincões do Brasil. No entanto, sem trabalho, esse ativo não teria experimentado crescimento. Foi um trabalho contínuo realizado pela equipe Klefer nas últimas temporadas.
Esses milhões de fãs que seguiam as diversas páginas da Copa do Brasil são preciosos para conversar com a torcida, motivar os brasileiros a acompanharem a competição, seja nos estádios ou nas diversas plataformas de transmissão disponíveis (TV aberta, TV fechada, pay-per-view ou streaming), ativar os patrocinadores do evento e realizar ações em conjunto com parceiros comerciais do torneio.
Apesar disso, a CBF optou por não renovar o contrato com a Klefer no final de 2022. Direito da confederação, dona da Copa do Brasil, que preferiu assinar pelos próximos três anos com a Brax Sports Assets como agência oficial do evento e agora terá que iniciar seu trabalho do zero.
Em discussões nas redes sociais, houve quem comparasse a situação com uma prefeitura do interior, em que o antigo governante perdeu a eleição e jogou fora a chave do prédio, para impedir que o adversário político conseguisse acesso ao local de trabalho.
No futuro, se alguém for estudar as redes sociais da Copa do Brasil entre 2015 e 2022 (e até antes, porque muitos perfis são anteriores ao contrato com a Klefer), não terá essa informação disponível nas páginas oficiais da competição. É um absurdo.
Em um mercado esportivo civilizado, a Klefer entregaria à CBF as contas e senhas desses perfis oficiais, que são propriedade da confederação, legítima dona da Copa do Brasil. É do jogo. Fim de contrato.
Talvez não haja cláusula contratual que a obrigue a repassar essas contas. É uma falha grave da CBF. Mas eticamente não faz sentido algum a agência achar que tenha direito sobre milhões de seguidores de um ativo que apenas geriu, mas nunca foi seu.
Adalberto Leister Filho é diretor de conteúdo da Máquina do Esporte