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Copa do Mundo de Clubes nos EUA: bastidores, torcida e a preparação para 2026

O norte-americano mostrou que está mais do que pronto para a Copa: estrutura, capacidade, acesso, nível de serviço nas arenas — tudo impressiona

Jogadores do Chelsea comemoram o título da Copa do Mundo de Clubes - Reprodução / Instagram @fifaclubworldcup

Jogadores do Chelsea comemoram o título da Copa do Mundo de Clubes - Reprodução / Instagram @fifaclubworldcup

A primeira Copa do Mundo de Clubes da Fifa, com 32 equipes de seis diferentes confederações, foi realizada nos Estados Unidos. Não entrarei aqui no mérito técnico ou da performance dos times — embora seja um tema riquíssimo —, mas quero focar em outro ponto: o impacto do torneio no mercado norte-americano e as percepções que tive ao acompanhar a competição de perto, seja pela TV, nos meios de comunicação, ou presencialmente, nos estádios.

A competição aconteceu em 12 estádios de 11 cidades, e cinco desses estádios também sediarão partidas da Copa do Mundo de 2026:

Mercedes-Benz Stadium (Atlanta)

Hard Rock Stadium (Miami)

MetLife Stadium (New York/New Jersey)

Lincoln Financial Field (Philadelphia)

Lumen Field (Seattle)

Acredito que, para a Fifa, foi uma oportunidade valiosa de testar aspectos logísticos cruciais: funcionamento geral dos estádios, acessibilidade, estacionamento, rede hoteleira e, claro, os gramados. Outro ponto importante foi o uso de centros de treinamento e instalações que podem muito bem ser reaproveitados pelas seleções em 2026.

Los Angeles, por exemplo, recebeu jogos no tradicional Rose Bowl agora em 2025 e será sede da Copa no moderno SoFi Stadium — mais uma cidade testada com antecedência pela Fifa.

Um detalhe curioso e pouco divulgado: a Fifa teve um profissional dedicado em cada sede do torneio com o cargo de team services venue officer. Essas pessoas foram responsáveis por receber e apoiar diariamente os clubes participantes. Meu amigo Bruno Paschoalini foi um desses profissionais, baseado em Charlotte. Ele acompanhou os bastidores de clubes como Inter de Milão, Ulsan HD e Fluminense.

“Em minha avaliação, a Fifa acertou em cheio ao implementar este novo formato. Na função de team services venue officer, tive a oportunidade de colaborar na operação de diversos clubes, cada um com culturas, objetivos e demandas operacionais singulares. A chave para o êxito em minhas atribuições esteve na estratégia de customizar os processos operacionais conforme as necessidades específicas de cada equipe. Os resultados apareceram, e pude finalizar minha participação no torneio com muito sucesso”, diz Bruno Paschoalini.

Do ponto de vista do torcedor, a festa foi bonita. A diversidade era visível nas arquibancadas: camisas de seleções e clubes de todos os cantos do mundo, não apenas dos que estavam em campo. A atmosfera era, acima de tudo, uma celebração do futebol — um momento de orgulho para vestir a camisa do seu clube ou país, independentemente do resultado.

Como curiosidade, fui ao jogo PSG x Bayern em Atlanta e fiquei impressionado com a quantidade de torcedores com camisas da Argentina, Brasil, Colômbia, México, Equador, EUA— além, é claro, dos clubes desses países. Um verdadeiro mosaico global.

Os clubes brasileiros também aproveitaram bem a oportunidade. Palmeiras, Flamengo, Botafogo e Fluminense criaram espaços próprios de ativação para se conectar com torcedores locais e os que vivem fora. Realizaram clínicas e camps para crianças, aproximando-se de um público fundamental e sentindo, na prática, o potencial do mercado norte-americano.

As marcas esportivas não ficaram atrás:

A Adidas lançou a bola oficial do torneio e promoveu uma campanha estrelada por Messi e Patrick Mahomes.

A Puma apresentou os uniformes de seus sete clubes patrocinados em colaboração com KidSuper, com desfile e evento em Nova York. Destaque para o “Palmeiras Day”, na flagship da marca na cidade.

A Nike apostou na campanha “Football Legends Unite”, reunindo ícones como Ronaldo, Ronaldinho, Drogba e Fernando Torres em um ensaio especial em Los Angeles. A marca também promoveu um torneio em Los Angeles de street soccer com estética urbana e participação de Travis Scott, reforçando a conexão com a cultura de rua.

É verdade que houve críticas quanto ao público: estádios com muitos assentos vazios, especialmente em jogos de menor apelo internacional. Mas é importante considerar o contexto: partidas em dias úteis, no verão norte-americano, horários comerciais, chuvas e até paralisações climáticas. Soma-se a isso o fato de o futebol (ou “soccer”) ainda estar conquistando seu espaço em um mercado altamente competitivo como o dos EUA.

Outro fator a considerar é a escala dos estádios. Um público de 30 mil pessoas pode parecer pequeno em uma arena com capacidade para 70 mil. Mas, olhando para os números médios, o cenário, na minha opinião, é positivo:

Fase de grupos: 34.746 espectadores por jogo (48 partidas).

Oitavas de final: média subiu para 42.751.

Média geral até 9 de julho, antes da partida PSG x Real Madrid: 35.900 torcedores por partida.

Para efeito de comparação, a Premier League tem média de 40.400 torcedores por jogo. A Série A, 30.800, a LaLiga 29.100, o Brasileirão: 26.500 e a MLS; 23.200.

Ou seja, o Mundial de Clubes 2025 já começa acima da maioria das ligas nacionais em média de público.

E já que estamos falando de torcida; que show que os times latinos deram nos estádios e nas cidades. Trouxeram uma atmosfera e jeito de torcer que o norte-americano em geral não está acostumado. E isso encantou.

Com relação aos estádios, o norte-americano mostrou que está mais do que pronto para a Copa. Estrutura, capacidade, acesso, nível de serviço oferecido dentro das arenas — tudo impressiona. E há ainda os estádios climatizados, um diferencial importante. Se tiver a chance de vir, por exemplo, a Atlanta, não deixe de visitar o Mercedes-Benz Stadium. Um espetáculo!

Mais do que um torneio em si, essa edição foi um ensaio geral para o que está por vir. A Fifa testou estrutura, operação, logística e engajamento. O torcedor norte-americano, por sua vez, teve um gostinho do que o futebol global pode oferecer além da Europa. O torcedor global, pode ter uma ideia do que será a Copa no ano que vem e, para as marcas, clubes e organizadores, foi uma chance de ver como o futebol será consumido em solo norte-americano com os olhos do mundo voltados para a Copa 2026.

E eu mal posso esperar por isso.

Cristiano Benassi, executivo de marketing esportivo com mais de 20 anos de experiência em empresas como Nike, Samsung e Adidas, é atualmente diretor sênior de produtos de consumo da Federação de Futebol dos Estados Unidos (U.S. Soccer), responsável pela parceria da entidade com a Nike. Formado em Propaganda & Marketing, com MBA em Gestão de Marketing Esportivo, também já atuou na liderança de parcerias estratégicas com atletas, clubes, federações e grandes eventos como Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Champions League

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