A Netflix e a National Football League (NFL) anunciaram um acordo para a transmissão, até 2026, da rodada de Natal da liga de futebol americano dentro da plataforma de streaming.
O negócio é uma aula para qualquer um que esteja na indústria esportiva e, no caso específico do Brasil, equivale a um curso de pós-graduação, doutorado ou até pós-doutorado.
Num mercado em que ainda engatinhamos para entender que o controle sobre o produto esportivo tem de ser dos organizadores do evento, e não da mídia ou dos intermediários, o que a NFL faz tem de ser visto com calma, estudado para, então, ser um objetivo de longo prazo.
O negócio NFL-Netflix ensina como deveria funcionar a negociação de direitos de mídia. Quem tem o poder sobre a narrativa deve ser, sempre, o esporte. Quem tem de ter responsabilidade de entregar o melhor negócio para o esporte tem de ser, sempre, a mídia. Sem intermediários, sem conselheiros. Com gente capacitada em cada lado do negócio para extrair disso o melhor para todos.
A NFL fechou um acordo muito específico com a Netflix. Serão apenas um ou no máximo três jogos por ano que estarão na plataforma. Os valores não foram divulgados, mas devem estar na casa das muitas dezenas ou mesmo centenas de milhões de dólares por temporada.
Detalhe: a NFL já fatura quase US$ 15 bilhões por ano com a venda dos direitos de mídia. E achou brecha para colocar mais um parceiro, para um evento específico.
As razões para o acordo
Por que fechar um negócio desses? Como o público fã de NFL lida com isso? E os parceiros de mídia que já pagam bilhões para a NFL, como ficam?
É importante aqui elencar os motivos que levaram ao casamento de NFL e Netflix para os jogos ao vivo.
- Nos EUA, as maiores audiências da temporada regular da NFL são no dia de Natal. Só em 2023, três jogos mostrados em 25 de dezembro estiveram entre as 50 maiores audiências da televisão no ano.
- A Netflix tem o maior número de pessoas conectadas simultaneamente justamente no dia 25 de dezembro.
- Os parceiros de mídia da NFL possuem acordos e entregas que vão muito além da rodada de Natal.
- A rodada de Natal, aliás, voltou a ser implementada pela liga apenas em 2020, como forma de se criar um produto comercial para a mídia e, com isso, ampliar o faturamento da NFL e dar mais acesso a novos players, como é o caso agora da Netflix.
- Para não fechar toda a transmissão dentro da plataforma e desagradar o fã, a NFL garantiu, no acordo, que as partidas de Natal serão transmitidas, pela TV linear, para a região do time que está jogando. Ou seja, o jogo não estará “escondido” para o torcedor daquele clube.
- Por fim, os jogos também estarão disponíveis para o principal fã do futebol americano, aquele que é assinante do serviço pago de streaming da própria liga, o NFL+.
Novo fã x fã recorrente
No final das contas, a Netflix não é o fim, mas apenas um novo meio de as pessoas se conectarem com a NFL. Nesse caso, a escolha da liga acontece com a maior plataforma de streaming do mundo justamente no dia de maior audiência dela no ano. Mas, para não sofrer uma queda abrupta no alcance do evento, os parceiros regulares de transmissão na TV poderão mostrar os jogos para os mercados em que haverá maior audiência.
Ou seja. O acordo garante milhões a mais para a NFL, traz um potencial novo público para perto da liga e, ainda, amplia a visibilidade do evento sem desagradar o fanático, que é o principal consumidor do esporte.
O curso de “Direitos de Mídia para Iniciantes com a NFL” está aí disponível para a cartolagem brasileira. Resta saber quem realmente quer aprender ou se a turma quer apenas passar de ano e pegar o diploma.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo.