O que falar sobre a reincidência de mais um abjeto caso de racismo sobre um jogador preto no futebol espanhol? Pelo menos desde Samuel Eto’o, no início da década de 2000, temos visto casos e mais casos se repetindo nos finais de semana na LaLiga.
O que mudou em relação ao episódio de Vinícius Júnior contra o Valencia quando comparado aos demais?
Começa pelo fato de ser o DÉCIMO PRIMEIRO caso de racismo contra o mesmo jogador em 18 meses. É, basicamente, mais do que uma ofensa racial percebida e publicamente repercutida a cada bimestre. Sem nada ser feito. Ou praticamente nada, a não ser dar mais respaldo para atitudes ofensivas.
A questão não é pelo fato de Vini Jr. ser brasileiro. Longe, mas muito longe disso. O racismo contra o brasileiro é o mesmo que já corrói as entranhas do futebol há muito tempo. Tal qual acontece na nossa sociedade.
O que acontece agora é que as ações contra Vini estão cada vez mais contundentes e despudoradas. Não há receio em atacar o atleta. Até porque nada é feito para impedir isso, como mostramos em uma das reportagens sobre o tema na Máquina do Esporte.
Na última década, a LaLiga se consolidou como a segunda maior competição nacional de futebol do mundo. Com um extenso trabalho de produção e distribuição de conteúdo, com ações de marketing e ações sociais que extrapolam o campo de jogo, com uma estratégia de expansão internacional que nenhuma outra liga fez no mundo.
Nos últimos 18 meses, ao não dar apoio a Vini Jr., a LaLiga vai jogando fora toda essa construção de mais de 10 anos. A competição começa a perder o que mais tentou mostrar nos últimos anos: representatividade.
Se é tão difícil para Javier Tebas e sua equipe serem antirracistas por natureza, deveriam tratar de sê-lo por uma questão econômica.
É desumano ser racista. Mas também está errado, do ponto de vista do negócio, não apoiar a causa contra o racismo. A NFL, principal liga esportiva do mundo, fez mea culpa há dois anos por não ter apoiado a causa de Colin Kaepernick contra o racismo em 2016. Passou, então, a apoiar projetos educacionais para entender o que é ser preconceituoso e ensinar todo o ecossistema envolvido com a liga a tentar não ser racista.
A LaLiga, que tanto tenta se vender como uma entidade moderna e preocupada socialmente, precisa entender que não cabe mais o estilo Tebas de agir. Há alguns anos, Bernie Ecclestone, chefão da Fórmula 1, dizia aos quatro ventos que o público jovem não interessava à categoria. Pego em uma orgia fantasiado de soldado nazista, Ecclestone foi ejetado da cadeira de mandatário da F1, e a Liberty Media assumiu a gestão de imagem e a gestão comercial da modalidade.
Tebas é, hoje, o que Ecclestone foi para a Fórmula 1 há alguns anos.
No caso da LaLiga, é preciso um trabalho extenso de mudança não apenas de imagem, mas de comportamento. Investir em conteúdo é fácil e dá retorno visível no curto prazo. Investir em educação dá trabalho, e o resultado não aparece de uma hora para a outra.
Agora, é preciso trabalhar para erradicar o racismo do ambiente do jogo. Ou a LaLiga expulsa o racismo, ou se autodestruirá.