Atitudes simples, como de que forma os atletas devolvem seus uniformes ao roupeiro ou a maneira que deixam o banco de reservas após um jogo, são reflexos do desenvolvimento de cada um deles como pessoas e cidadãos. Gestos cotidianos demonstram a consciência e a responsabilidade que estão sendo cultivadas, contribuindo para a formação integral, que refletirá dentro e fora dos campos, na vida deles e no “negócio futebol”.
Quando abordamos o desenvolvimento integral do atleta, estamos incluindo aspectos muito além das habilidades técnicas e táticas do esporte. É preciso valorizar a formação do ser humano como um todo, incluindo habilidades sociais, emocionais, éticas e comportamentais.
Genilson da Rocha Santos, diretor-presidente do Grêmio Novorizontino SAF, valoriza a importância do atleta receber, durante o seu processo de formação, conteúdos e estímulos que desenvolvam outras capacidades além do futebol. Ele ressalta que isso permite que o atleta tenha uma visão mais completa sobre a importância de valores que farão parte de sua vida, compreendendo e valorizando cada oportunidade proporcionada pelo esporte.
“Eu não tive treinadores nem profissionais que ensinassem, ou mesmo tivessem informação, para ensinar valores referentes àquilo que faz parte do jogo, mas não é o jogo. Formando pessoas melhores com a consciência mais completa de mundo, de vida e de humanidade”, disse Genilson, compartilhando sua experiência como ex-atleta.
O CEO do Red Bull Bragantino, André Rocha, também aborda, com exclusividade para a audiência desta coluna, a confiança na preparação do ser humano para além do atleta.
“O futebol ainda explora pouco a possibilidade de desenvolver as pessoas. Precisamos trabalhar cada vez mais para esse desenvolvimento pessoal para além do esportivo”, enfatiza.
André Rocha menciona a inauguração do centro de performance e desenvolvimento, bem como a parceria recém-oficializada com uma escola particular da cidade.
“Isso garantirá um ensino ainda mais qualificado para os atletas de todas as categorias. Considero importante este tipo de iniciativa, não somente para socializá-los de forma correta, mas também para garantir um ensino de qualidade, que os ajudará a se desenvolverem no futebol e como seres humanos”, destaca.
O CEO relata, ainda, que a abordagem transdisciplinar adotada pelo Red Bull Bragantino, aliada ao uso de ferramentas do mundo corporativo, permite identificar características pessoais, traços de personalidade e liderança nos jovens atletas, auxiliando-os a se desenvolverem conforme seus pontos fortes.
“Essa prática contribui para o crescimento não apenas como jogadores, mas também como seres humanos conscientes e responsáveis”, salienta.
Assim, o compromisso com o desenvolvimento integral do atleta, como defendido por Genilson e André, está pautado na importância de formar cidadãos melhores, capazes de influenciar positivamente seus entornos e fãs. O exemplo dado em campo se estende para além das competições esportivas, impactando a sociedade e inspirando outros a seguirem um caminho de respeito, comprometimento e desenvolvimento pessoal. Além disso, pessoas melhores sempre serão atletas melhores e, por consequência, ativos com maior valor agregado.
É válido ressaltar que os estímulos mencionados acima também desenvolvem valores éticos e sociais, além da mentalidade de crescimento e resiliência no processo de desenvolvimento na jornada esportiva. A capacidade de lidar com desafios de forma respeitosa e justa, buscando superar obstáculos e aprender com as experiências adversas, é essencial para o amadurecimento pessoal e profissional dos atletas.
A ideia sobre o desenvolvimento integral do atleta deve ainda contemplar a educação financeira e práticas voltadas para a formação de cidadãos conscientes e preparados para enfrentar com sustentabilidade os desafios do mundo contemporâneo e da curta carreira de atleta profissional.
Podemos concluir que trabalhar essa ideia com um olhar ampliado para além dos campos é um tema essencial, seja pelo compromisso social que deveria acompanhar o futebol no Brasil, ou pelo potencial aumento de receita e valorização do “ativo jogador”. Para isso, é necessário que haja uma visão estratégica e a disponibilidade para alocar os recursos apropriados.
Ana Teresa Ratti possui mais de 20 anos de experiência corporativa, é mestra em Administração, trabalha atualmente com gestão esportiva, sendo cofundadora da Vesta Gestão Esportiva, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte