Você pagaria R$ 9 mil pela badalada figurinha dourada “Legend” do Neymar? Todo mundo viu nos últimos dias a “caça” desenfreada ao cobiçado adesivo do camisa 10 do Brasil na internet. E quem achou em um pacotinho e vendeu “na alta”, se deu bem. Porque a pepita de ouro do “Menino Ney” se desvalorizou bastante em poucos dias com o surgimento de várias cópias da mesma figurinha do álbum da Copa do Catar 2022. Hoje, ela pode ser encontrada em sites de comércio informal por dez vezes menos.
O primeiro álbum de figurinhas de uma Copa do Mundo circulou no Brasil em 1950, no fatídico Mundial do Maracanazzo. De lá para cá, bom, de lá para cá, não é preciso falar da febre em que as figurinhas de futebol se transformaram pelo país. Só que, enquanto a notícia de que um adesivo de futebol pode valer alguns milhares de reais “assusta” muita gente, no exterior as cifras e “os sustos” são bem diferentes. Quem lê a coluna já viu inúmeros exemplos de cards da NBA e de beisebol vendidos por milhões de dólares.
Mas o que define o valor de uma figurinha? São muitas as variáveis. A primeira, e mais importante, é a escassez. Enquanto não havia oferta do adesivo, quando só se sabia da única figurinha do tipo pelas redes sociais, apareceu proposta de compra e negociação de tudo quanto foi tipo: de ninhada de cachorro até relógio de marca, de sociedade em padaria até os tão falados R$ 9 mil. Valia tudo. Fruto da escassez.
Agora teremos, como dizem os economistas, aquela famosa tendência de queda. Afinal, são quase 700 cromos diferentes no álbum e cada vez mais figurinhas circulando por aí. Ah, mas elas podem se valorizar de novo? Sim. Talvez até superando o patamar do adesivo “Legend” do Neymar. Não é exatamente cultura do brasileiro estimular esse tipo de mercado, já que o “valor” de cada figurinha é arbitrado por seu “proprietário”. Uma brilhante pode valer duas “comuns”, o preço de um pacotinho ou até uma compensação financeira maior (dependendo da admiração pelo craque do adesivo).
Ou até uma ninhada de cachorros. A negociação é livre.
Então, quando essas figurinhas podem ter um valor financeiro nesse “mercado”? Três momentos: quando acabar a Copa do Mundo (no fim do ano), quando for encerrada a produção de figurinhas (começo do ano) e quando terminar o prazo para solicitação de figurinhas junto à Panini (em maio). Um fator que abriria mercado para as figurinhas da Copa seria a numeração de série nos adesivos mais raros. Assim seria possível ter a certeza do número total daquele cromo e uma base para avaliação.
Por ser um produto internacional (o álbum é comercializado em mais de 150 países), o prazo de validade desses adesivos não existe, já que atraem interessados em sites como eBay “para sempre”. Mas, se fossem seriados e/ou numerados, alimentariam e movimentariam bastante um mercado paralelo de compra e venda.
A Panini possui uma linha de cards colecionáveis premium que é vendida nos EUA chamada “Immaculate Collection”. E, aí sim, combinada com a mentalidade de negócios do mercado americano, cartões como esses chegam a valer fortunas como o que tem um retalho de camisa e o autógrafo de Pelé (à venda por US$ 30 mil / mais de R$ 150 mil), o que reúne assinaturas de Ronaldinho Gaúcho e Neymar em uma peça temática do PSG (à venda por US$ 27,5 mil / mais de R$ 140 mil) ou o que tem Lionel Messi com a camisa da Argentina na Copa da Rússia (negociado por US$ 35 mil / quase R$ 180 mil).
Imagine só o que não seria oferecido em troca desses cards…
Samy Vaisman é jornalista, sócio-diretor da MPC Rio Comunicação (@mpcriocom), cofundador da Memorabília do Esporte (@memorabiliadoesporte) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte