Enquanto idealizava inúmeros temas para a coluna deste mês, sempre me via confrontada pelo pensamento: como abordar esse assunto em meio a tanta tristeza entre os nossos compatriotas do Rio Grande do Sul?
Refletindo sobre temas já abordados nesta coluna, percebi correlações que poderiam ser interessantes para compartilhar este mês. Um exemplo é o poder da comunicação. Trazendo para os impactos neste momento de tristeza, que bom que o ambiente digital, especialmente as redes sociais, conseguem ampliar o potencial de conexão entre as pessoas e, observando o ambiente do futebol (sem mencionar ações especificas), fica evidente o quanto aumenta a capacidade dos clubes de agirem com rapidez, mobilizando seus torcedores e simpatizantes.
É possível observar também algo que já trouxemos como pauta: o ambiente digital oportuniza que todos (quase sem exceção) emitam suas opiniões e produzam conteúdos sobre qualquer que seja o tema. Para o bem e para “o mal”. Assim, é possível observar julgamentos e análises com críticas infundadas sobre ações que estão sendo realizadas. Será que a marca tal está querendo aparecer? Por que o fulano de tal não doa mais? O ciclano fez isso só porque quer estar na mídia. Enfim, o potencial do ambiente digital é igualmente verdadeiro para o positivo e para o negativo, e o peso do julgamento pode ser cruel. Sabemos disso.
Falando do poder das marcas pessoais, percebemos que indivíduos com suas influências no ambiente digital (artistas, atletas, influenciadores, comediantes, etc) têm sido essenciais para ampliar o alcance da mobilização pela ajuda coletiva. São pessoas que têm audiência e reputação e, com isso, geram grande engajamento em suas causas. Neste momento, não tem sido diferente, pois chamam para a ação e oferecem caminhos para doações.
Falando da formação integral de atletas e do poder de formação humana que o esporte tem, podemos perceber a atuação de atletas na linha de frente, como Rafael Sobis e Pedro Scooby, ou em ações de doações significativas voltadas para contribuir com a minimização dos problemas causados por essa tragédia.
Vale destacar que tudo isso acontece com abrangência global, já que não há limites para a conexão digital. Brasileiros e pessoas comovidas no mundo todo têm acompanhado e participado de diferentes formas desse movimento coletivo de solidariedade.
Conectando com os temas que são foco desta coluna, nota-se como as ideias que envolvem atuação global são exequíveis atualmente e com certa facilidade. Isso viabiliza ações antes inimagináveis e retornos de posicionamento de marca, vendas, captação de recursos e o uso de soluções para diferentes áreas que antes sequer passavam pela nossa imaginação. Multiclubes, multiagências de representação de atletas e gestores que atuam simultaneamente em diferentes continentes são alguns movimentos reais nesta direção.
Estamos diante deste momento de grande ambiguidade. Por um lado, a vida segue, e o progresso no futebol, assim como em todos os segmentos, faz parte do caminho que levará prosperidade, inclusive para o Rio Grande do Sul. Por outro, a devastação que não é “apenas” material, mas gigantesca na mesma proporção em aspectos emocionais. Afinal, quantas vidas e bens perdidos e quantas lembranças, sonhos e projetos também foram embora.
Reflito, ainda, sobre o Dia das Mães que se aproxima. Quando penso nesta data, sinto emoções conflitantes, mas que convergem para um ponto poderoso e muito genuíno: o sentimento maternal. Não a maternidade em si, mas sim o sentimento maternal, que transcende os laços sanguíneos e está presente entre pessoas que se amam, sejam elas mães ou não. Esse sentimento é profundamente enraizado no instinto cuidador, na intenção de proteger e cuidar do próximo, e está presente no ser humano. Nesse sentido, compartilho a crença de que esse “sentimento cuidador”, independentemente do gênero, é fortemente responsável por estarmos vivenciando o contraponto desta tragédia: tantas pessoas colocando energia, tempo, recursos e pensamentos para ajudar aqueles que sofrem. Isso é lindo, muito poderoso e é, também, muito natural.
Assim, em tempos em que a inteligência artificial (IA) é a grande pauta, vale parar, respirar fundo (coisa que IA nenhuma faz) e se apropriar de sentimentos naturais, humanos, que nos diferenciam e, ao mesmo tempo, nos conectam e são responsáveis por muita prosperidade na existência e evolução da nossa espécie. Esse instinto seguramente é forte e um sábio condutor para as nossas ações.
Finalizo sugerindo que seja observado como o futebol, assim como o sentimento maternal, tem seu poder intrínseco e natural. Afinal, não é e nunca será só futebol.
Ana Teresa Ratti possui mais de 20 anos de experiência corporativa, é mestra em Administração, trabalha atualmente com gestão esportiva, sendo cofundadora da Vesta Gestão Esportiva, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte