“A corrida virou um comércio”. “Os organizadores só querem ganhar dinheiro”. “O valor das provas está muito caro”. Estas são frases que escuto há 15 anos no universo de eventos esportivos.
Elas vêm de pessoas comuns, ciclistas, nadadores, corredores: gente com todo direito de opinar, assim como todos nós. Mas estão longe da lógica.
O que se lê nas entrelinhas dessas reclamações é algo como: “ganhar dinheiro com esporte é feio, e você não deveria visar ao lucro pela nobreza e pureza do seu trabalho. Por isso, deveria trabalhar de graça e jamais prosperar. Muito pelo contrário, deveria agradecer por poder subsistir nesse mercado, que nem deveria ser um mercado”.
Há uma sensação difusa na sociedade de que é pecado ganhar dinheiro com esporte. Não pode. Como ela fica embutida em reclamações e pulverizada em comentários relativamente desconexos, não é tão fácil de perceber.
Mas se você escutar com atenção, dá para ouvir a mensagem com clareza. É uma culpa tremenda. E injustificada.
A sociedade brasileira tem dificuldade em reconhecer os negócios do esporte como negócios, empresas, pessoas que trabalham com isso e, veja só, ganham dinheiro. Com isso, normalizamos frases como: “a corrida virou um comércio”.
Para começar: corrida é um esporte, e não pode se transformar em outra coisa. Ciclismo idem. Tênis idem, natação idem. E nem preciso me alongar na lista de todos os esportes que existem aqui.
Há, entretanto, marcas que fornecem material e experiências no entorno do esporte. E por dinheiro, veja só que absurdo.
Essa sensação de que tudo deveria ser uma grande ONG não fecha nem a conta social: o governo deixa os investimentos no esporte de lado. O Ministério virou Secretaria no Governo Bolsonaro. No atual, de Lula, teve a titular da pasta trocada por apoio partidário no Congresso. É relativamente ignorado.
As confederações, sem contar a de futebol (CBF), são heroicas.
Aliás, falando em futebol, os clubes de futebol (que são basicamente sinônimo do que é esporte no Brasil para grande parte da população) ajudam a construir essa “sensação de pecado” pela estrutura de oligarquia irresponsável e bilhões de dívidas. Dirigentes que fazem por amor – e que fazem merda o tempo todo.
No contexto, a iniciativa privada acaba sendo essencial para construir a base esportiva no país: a grana vem de patrocínios, de benfeitorias, de gente comum que arregaça as mangas e enxerga mercados consumidores.
Nós já mapeamos cerca de 8 mil organizadores de eventos esportivos no Brasil. Nem 0,1% são ONGs. São, na maioria, microempresários. Os maiores (com dezenas de funcionários), sonhadores com boa capacidade profissional, tentam ganhar dinheiro com o esporte.
“Como assim cobrar ‘preços abusivos’ para nadar no mar, pedalar na rua ou correr na montanha?” Pois fazer um evento custa muito mais caro do que você imagina.
A realidade é que esses empreendedores esportivos sofrem para conseguir fazer projetos rentáveis. E mais: eles deveriam ser muito rentáveis.
Gostaria de informar que está oficialmente autorizado ganhar dinheiro com esporte, mesmo que você não seja alguma marca estrangeira de bens de consumo ou uma marca de apostas.
O mercado esportivo gera milhões de empregos e faz muito bem para o mundo em existir. É extremamente importante que essas pessoas que fazem esse trabalho sejam muito bem remuneradas por ele.
De novo: há questões implícitas na sociedade sobre ganhar dinheiro. Parece feio. Parece que é sinônimo de exploração.
Apesar de toda essa antipropaganda difusa, é lindo ver gente que trabalha com esporte prosperar, apesar de ser raro e profundamente julgado. Mas ganhar dinheiro com algo que faz bem para o mundo faz todo sentido.
Da minha parte, sempre desejei e continuarei desejando prosperidade a todos que trabalham com esporte.
Daniel Krutman é empreendedor e publicitário. Formado em Comunicação Social, pós-graduado em Ciências do Consumo e mestre em Marketing Digital, ocupa atualmente o cargo de CEO da plataforma de vendas de inscrições Ticket Sports, além de ser fundador da The Squad Academy, hub de conteúdo para o esporte