A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) proibiu, na última sexta-feira (4), que os jogadores que disputem competições no país subam e pisem na bola. Sim, é isso mesmo. No futebol brasileiro, nenhum jogador pode pisar na bola. Pelo menos dentro de campo.
E fora dele?
A determinação aconteceu um dia depois de a revista Piauí publicar uma extensa reportagem mostrando diversas pisadas na bola da cartolagem brasileira, que têm sugado boa parte dos bilhões de recursos que a CBF consegue arrecadar graças à fama da seleção nacional.
Em um malabarismo para acabar com benesses de gestões anteriores e manter-se no poder, Ednaldo Rodrigues elevou os salários dos presidentes das federações, concedeu aos clubes o direito de montar a liga para organizar as Séries A e B do Brasileirão e aproximou ainda mais o mundo da bola da política em Brasília.
O que fizeram os demais cartolas do futebol nacional nesse período?
Discutiram, sem uma conclusão única, a criação da liga. Pior do que não tirar o projeto do papel, desmembrou-o em dois grupos, dando ainda mais razão e poder para a CBF de tomar para si a gestão do Brasileirão.
No meio disso, vimos surgir uma discussão trazida por alguns dos mais estrelados atletas em atividade no país: a adoção cada vez maior do gramado sintético pelos clubes em seus estádios modernos e sedentos por conciliar partidas de futebol e shows de alta demanda de público.
Agora, no mesmo final de semana em que proíbe os jogadores de pisarem na bola, a CBF vê um show de barbaridades – interpretativas ou não – de seus árbitros na 2ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro. A gritaria nas redes sociais e nos programas esportivos praticamente enlouqueceu a já nada sã conversa digital.
O futebol brasileiro tem o potencial de ser uma NFL. Somos o maior mercado consumidor interno de futebol do mundo. Nenhum outro país tem tanta gente fanática por futebol quanto o Brasil. Enquanto os clubes europeus precisaram se aventurar além-mar para ganhar novos consumidores e aumentar a receita de seus clubes, nossos times, mesmo em um mercado imaturo e sem tanto profissionalismo, conseguem ultrapassar o bilhão de reais em faturamento anual.
Podemos ser muito mais do que os melhores exportadores de “pé de obra” do futebol mundial. Temos condições de ter o melhor campeonato do mundo, com os estádios mais cheios, os melhores contratos de televisão e, por que não, o celeiro dos grandes craques mundiais da bola.
Temos de melhorar gramado, arbitragem, cartolagem e mídia. Temos de estudar como fazer do futebol brasileiro um produto. Não algo maquiado e pasteurizado, mas que possa reforçar nossa história, nossas origens, nossa miscigenação sem igual no mundo todo.
Podemos, sim, pisar na bola. Deveria ser algo que faz parte da graça de ser único no futebol mundial. É um pouco do que nos faz sermos tão admirados e tão odiados ao mesmo tempo pelo mundo da bola.
Mas não podemos nos perder na discussão de se podemos ou não pisar na bola, ou de se é pênalti ou não, ou de qual é a melhor grama para se jogar. Temos de entender o porquê de não evoluirmos na mesma velocidade dos outros. Não do ponto de vista técnico ou tático, mas gerencial.
Até quando seguiremos não dando bola para tanta pisada de bola?
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo