A Copa do Mundo de Clubes foi uma proposta magnânima de Gianni Infantino para tentar reduzir a influência e o poder dos europeus sobre o futebol de clubes pelo mundo. A exemplo do que fez João Havelange com a Fifa no começo dos anos 1970, Infantino foi buscar a periferia da bola para tentar forçar a Europa a aceitar que o futebol não existe apenas dentro de seu quadrado.
Mas, se em 1970, às custas de muitas promessas e inchaço da Copa do Mundo, Havelange conseguiu chegar à presidência da Fifa e colocar mais países para jogar seu principal torneio, o desafio de Infantino era ainda maior.
Ele precisava promover, do zero, uma competição que colocasse novos times no foco global da bola. Mas, para isso dar certo, era preciso manter a chama de interesse acesa dos europeus para brigar pelo título da competição.
O custo da brincadeira? US$ 2 bilhões, que o presidente da Fifa só conseguiu graças ao aporte da Arábia Saudita e sua estratégia de limpeza de imagem a partir do futebol. Os dólares que brotam do chão árabe são a Adidas de Havelange na eleição da Fifa em 70.
O que se observa em pouco mais de 20 dias de convivência entre a Europa e o restante do planeta bola nessa Copa do Mundo de Clubes é que o futebol precisava desse choque de culturas também nas competições entre times, até para algumas teses serem comprovadas.
- A Europa ainda será o centro da bola. Por uma questão de grana e de bom tratamento de seu principal produto, a Champions League, durante mais de duas décadas.
- A América do Sul ainda será o produtor do melhor pé-de-obra do mundo, independentemente (ou talvez pela) falta de recursos que existem para produzir um futebol mais qualificado em nossos campos.
- Africanos e asiáticos aprenderam a jogar futebol, mas ainda estão muito abaixo dos dois grandes centros.
- A enxurrada de dinheiro na Arábia Saudita poderá fazer com que clubes daquele país enfrentem os principais times do mundo, mas sempre será uma competitividade anabolizada e fruto de atletas de outras nacionalidades.
O grande acerto do Mundial no fim das contas foi mostrar, a todos os países, as diferentes realidades do futebol pelo mundo. As competições de clubes globais não podem se resumir à Champions League, e a Copa da Fifa mostra que há possibilidades de se mudar o rumo do futebol mundial a partir disso.
Com um pouco mais de organização e, principalmente, criando-se um modelo próprio de formação e retenção de talentos (especialmente essa retenção), o futebol de clubes do Brasil consegue competir para estar entre os melhores do mundo.
A Fifa reutilizou a tática que consagrou o poder de João Havelange e transformou o futebol num negócio há mais de 50 anos. Agora, ele pode reinventar as competições de clubes pelo mundo todo. Resta saber se, em 2029, ainda haverá interesse financeiro – e político – para manter o Mundial no calendário.