Inteligência Artificial e Educação: “Armas” contra o racismo no esporte

Vinícius Júnior tem sido alvo constante de racismo no futebol espanhol - Reprodução / Instagram (@vinijr)

A Inteligência Artificial (IA) tem se tornado uma ferramenta cada vez mais relevante na luta contra o racismo, inclusive no esporte. Neste artigo, vamos explorar alguns exemplos de como a IA pode ser utilizada para combater o racismo nos estádios de futebol.

Para começar, é importante refletir sobre um caso recente que ganhou destaque na imprensa: o do jogador Vinícius Júnior, do Real Madrid. Durante uma partida, Vini Jr. sofreu insultos racistas que desencadearam uma série de eventos, incluindo a sua própria expulsão. O jogador, em suas redes sociais, expressou sua frustração e descontentamento com a situação, afirmando que o racismo se tornou normal na LaLiga, o principal campeonato de futebol da Espanha.

O caso de Vinícius Jr. não é um incidente isolado. Ele tem sido alvo de racismo repetidamente nesta temporada. Porém, o que é possível fazer para combater esse tipo de comportamento nos estádios e garantir um ambiente de esporte mais inclusivo e respeitoso?

O racismo é um problema antigo que, infelizmente, ainda é prevalente na nossa sociedade e afeta muitos setores, incluindo o esporte. Mas e se a tecnologia pudesse ajudar a nivelar o campo de jogo? E se a Inteligência Artificial, especificamente, pudesse ser uma força potente no combate ao racismo nos estádios?

Arrisco dizer que estamos caminhando para algo nesse sentido. E a postura de Vinícius Jr. pode ajudar a encurtar esse caminho.

Um exemplo que acho muito interessante vem sendo testado na Holanda. PSV, Feyenoord e PEC Zwolle estão fazendo uma experiência fascinante baseada em “tecnologia inteligente” para detectar e identificar comportamentos racistas e discriminatórios durante as partidas. Gosto de pensar nela como um árbitro adicional que nunca pisca, cujo único trabalho é manter olhos atentos ao comportamento dos torcedores nas arquibancadas. Este árbitro, uma IA, utiliza as câmeras do estádio e equipamentos de som para desempenhar seu papel. No Philips Stadion, do PSV, as câmeras monitoram os cânticos da multidão, enquanto a IA procura por sons preocupantes que podem indicar comportamentos racistas​.

É óbvio que o modelo pode gerar algumas séries de questões. A primeira é: será que isso é suficiente? Dúvidas mais sérias, porém, devem ser levantadas. Um exemplo: como podemos ter certeza de que essas medidas não invadem a privacidade dos torcedores?

A Associação de Futebol Holandesa diz que o sistema cumpre todas as regras e regulamentos holandeses de privacidade e devem contribuir para uma cultura esportiva mais positiva nos estádios de futebol. Ainda não encontrei resultados sobre o teste, mas a Associação diz que já pretende levar o sistema para um quarto estádio.

Esse é um debate complexo e crucial que precisa ser feito, mas acredito que é indiscutível que a IA está proporcionando novas ferramentas para enfrentar o racismo. O que talvez falta é boa vontade de se investir dinheiro nas ferramentas existentes.

Um outro exemplo interessante de IA para combater o racismo no esporte pode ser encontrado on-line. Plataformas como Bodyguard.ai usam IA e uma equipe de especialistas em linguística para moderar automaticamente os comentários e remover classificações de ódio, como racismo, das mídias sociais antes que se tornem públicas. Ao moderar os comentários on-line usando o sistema Bodyguard.ai, clubes e organizações podem eliminar o mais alto nível de comportamento abusivo tóxico de suas comunidades on-line instantaneamente.

Claro que, como toda vez que mexemos com IA, devemos levantar algumas questões. Como garantir que o uso da IA não resulte em falsos positivos, rotulando erroneamente comentários não racistas como ofensivos? E como as plataformas podem garantir a imparcialidade dos algoritmos de IA?

Também é importante levantarmos a questão de como lidamos com as implicações éticas da moderação automática de comentários.

Um fato importante, que vale debatermos, é que a discussão sobre o uso da IA para combater o racismo nos estádios é complexa e requer um debate contínuo. É necessário garantir que a tecnologia seja usada de forma ética e justa, sem prejudicar a privacidade dos torcedores ou silenciar vozes inocentes.

Ainda assim, é crucial lembrar que a tecnologia, sozinha, não é a solução completa. A IA pode ser uma ferramenta poderosa para detectar e combater o racismo, mas a mudança real vem de uma transformação cultural e educacional mais profunda. A educação é uma ferramenta essencial nessa luta. Ela pode desempenhar um papel importante na conscientização sobre o racismo, na promoção do respeito e da inclusão, e na transformação de atitudes e comportamentos. Isso pode começar com a educação nas escolas, mas também deve se estender a programas de conscientização nas entidades esportivas e campanhas de educação pública.

Federações devem se unir a governos para produzirem campanhas nacionais e internacionais que ajudem na educação da população na questão racial. As federações também podem, por exemplo, financiar programas de treinamento antirracismo nos clubes, trabalhando diretamente com jogadores, treinadores, funcionários e torcedores. Esses programas poderiam abordar a história do racismo e suas formas contemporâneas, além de como reconhecer e responder ao racismo, e como promover a inclusão e o respeito.

A educação também pode ajudar a promover uma maior compreensão e apreciação da diversidade cultural, o que pode, por sua vez, ajudar a reduzir o racismo. Ensinar sobre a história e a cultura de diferentes grupos étnicos pode contribuir para uma sociedade mais inclusiva e respeitosa.

Em suma, a IA pode ser uma ferramenta valiosa na luta contra o racismo no esporte, mas a educação é a chave para a mudança a longo prazo. É necessário um esforço conjunto de tecnologia, educação e ação social para criar um ambiente de esporte também mais inclusivo e respeitoso.

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Fernando Fleury é CEO da Armatore Market+Science, PhD em Comportamento do Consumo e trabalha com inovação e tecnologia para criar novos modelos de negócios para a indústria com a construção de soluções avançadas e modelos preditivos usando inteligência artificial, aprendizado de máquina e ciência de dados para entender o ciclo de vida dos produtos, criar novos produtos, identificar e rastrear clusters a fim de aumentar a receita, o público e o envolvimento dos fãs, entre outros. Ele escreve mensalmente na Máquina do Esporte.

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