João Fonseca é o novo colosso mundial do esporte brasileiro. No último final de semana, ele talvez tenha sido o tenista mais citado em todo o planeta. O motivo? Ganhou o título do ATP 250 de Buenos Aires. Mas por que se falou tanto em João se a conquista dele foi de um torneio que está no quarto nível de importância entre os do tênis mundial?
João é a bola da vez do tênis. Como foi Carlos Alcaraz há alguns anos, o brasileiro desponta como uma promessa mundial. Fez mais do que Guga, o maior da nossa história, em menos tempo. Aparentemente, 25 anos depois de termos um número 1 do mundo pela primeira vez, chegou alguém para ficar na briga pelo topo com outros nomes.
Mas João traz, com ele, um componente a mais que pode fazer toda a diferença no mundo ultraconectado de hoje. Ele engaja nas redes, chama para perto outros ícones mundiais do esporte brasileiro e, no fim das contas, amplia o alcance do tênis globalmente.
É só ver o tratamento que a ATP tem dado, nas redes sociais, para recortes dos jogos do brasileiro desde que ele venceu o torneio de final de ano da “próxima geração” (ATP Next Gen), em dezembro de 2024. O que se viu nos perfis oficiais do tênis após a primeira grande vitória no Australian Open e o título em Buenos Aires no último domingo (16) foi uma Fonsequização Oficial.
Isso sem falar o que foram os dois primeiros dias do Rio Open com o novo status alcançado pelo tenista.
Uma reportagem de 3 minutos no Jornal Nacional apenas para mostrar como o público entrou em êxtase ao fazer de tudo para vê-lo treinar para a estreia no Brasil, imagens dos famosos que foram à quadra Guga Kuerten para vê-lo perder para o francês Alexandre Müller e mais reportagens e reportagens com as declarações dele e de seu algoz após a frustrante queda precoce.
O destino de João é conquistar o mundo a partir do tênis. O que leva a um questionamento: como somos capazes de produzir tantos ícones do esporte mundial com investimentos tão díspares e uma monocultura esportiva de massa?
João se junta a uma geração que já conta com Rebeca Andrade, Rayssa Leal, Gabriel Medina e tantos outros nomes que têm sido protagonistas globais em suas modalidades, furando a bolha do nicho daquele esporte e ganhando respeito, fama e dinheiro por isso.
Ao que tudo indica, a grama que nasce por aqui é verde, mesmo com tão pouco sendo feito para termos protagonismo global no esporte.
Imagine o que poderia existir de esporte no Brasil se tivéssemos uma política pública nacional de desenvolvimento da prática de atividade física desde as escolas, sem depender dos clubes privados? Ou que tivéssemos mais incentivo ao esporte profissional com a realização de torneios internacionais recorrentes por aqui? Se a imprensa cobrisse realmente todos os esportes sem preocupação com audiência? Se fôssemos um país que consumisse um pouco menos futebol e mais outras modalidades?
Nossa grama poderia ser ainda mais verde que a dos vizinhos. Aliás, nem sequer precisaríamos discutir qual tipo de grama precisaríamos ter em nossos campos de futebol, já que os dirigentes saberiam que, para termos grandes atletas, precisamos investir em produtos de qualidade para eles performarem.
João Fonseca é o novo fenômeno global do tênis brasileiro. Um esporte que, na última década, viu crescer bem os investimentos em formação, especialmente a partir do instante em que passamos a ter, por aqui, um torneio de relevância, como o Rio Open.
Formar um talento demanda tempo e dinheiro. Dinheiro não é problema para o esporte brasileiro. Desde que saibamos que é preciso investir em coisas que levam tempo para dar frutos e não aparecem tanto na mídia em um primeiro momento. É como manter um bom gramado natural para jogar. Tem de cuidar, investir e trabalhar para deixá-lo sempre bem. Leva tempo. E dinheiro.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo