Jogo a jogo: Uma estratégia inteligente frente a um cenário de competições simultâneas

Jorge Jesus soube lidar com o calendário e com as peças que tinha à disposição para fazer do Flamengo um time vencedor em 2019 - Reprodução / MB Media

O calendário de competições no futebol brasileiro chega a ser insano. Além do Estadual, ao longo do ano, acontecem de forma paralela três disputas importantes: Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Libertadores.

Todas as equipes vivem esse dilema. São inúmeros jogos no decorrer da temporada, e sempre surge um grande debate entre as equipes que não possuem um elenco recheado de opções para ter dois times competitivos: seguir com força máxima em uma determinada competição ou poupar os jogadores para conseguir equilibrar o desempenho em todas?

Diante desse impasse, acredito muito na estratégia do “jogo a jogo”. Porque, embora nem todas as equipes tenham muitas opções de alto nível para substituir peças importantes, todas têm a possibilidade de fazer um revezamento de forma pontual. Ou seja, substituir de dois a três jogadores por partida, como Jorge Jesus fez no Flamengo em 2019. 

Além de descansar os jogadores que estavam necessitando no momento, ele envolvia todos os jogadores nos treinos técnicos e táticos. Os treinamentos eram voltados não apenas para os titulares, mas sim para o grupo todo. Assim, todos sabiam exatamente o que fazer quando entrassem em campo.

Isso acaba se tornando uma grande oportunidade, pois os atletas se mantêm participativos e em alerta. Porém, alguns treinadores e dirigentes têm receio de assumir para o mundo externo que isso é necessário em algum momento. Muitas vezes por conta da pressão do torcedor.

No entanto, é importante que o clube assuma isso e seja transparente, para que aumente cada vez mais essa conscientização. Ser estratégico é um dos grandes desafios de um clube, pois em todos os jogos ele deve focar e se concentrar em utilizar o melhor que tem. Sabendo que esse melhor, muitas vezes, poderá ser tendo que revezar um jogador que está com dor muscular, com desgaste físico ou com desgaste mental.

Além do grande número de competições, os clubes brasileiros enfrentam ainda outro obstáculo que são as inúmeras viagens ao longo do ano, o que também influencia no cansaço físico e mental dos atletas. Por passarem mais tempo longe de casa, da família e dos amigos, os jogadores acabam ficando mergulhados no ambiente de pressão. As equipes que não estão no eixo Rio-São Paulo sofrem ainda mais com esse deslocamento.

Mais uma razão pela qual se faz importante conceder, pontualmente, descanso para alguns jogadores, em algumas partidas, durante a temporada. 

A cultura do europeu traz mais isso. Eles têm um planejamento de longo prazo, mas sabem que a cada jogo é necessária uma análise de como cada jogador está se comportando, o cansaço físico ou mental que ele está demonstrando. E, para cada partida, eles escalam os que estão melhores naquele momento. Isso cria uma mentalidade de que, salvo os jogadores que têm titularidade absoluta, não existe titular ou reserva. 

O revezamento pontual de dois a três jogadores é uma estratégia inteligente, porque possibilita descansar alguns atletas que necessitam mais em determinado momento, e por outro lado, mantém em campo uma base de jogadores que já está com ritmo físico mais acostumado com os jogos. E essa é uma combinação que dá certo.

Diego Ribas é ex-jogador de futebol, com passagens por Santos, Flamengo, diversos clubes europeus e seleção brasileira. Atualmente, é palestrante, comentarista, apresentador do PodCast 10 & Faixa, garoto-propaganda de empresas como Genial Investimentos, Adidas, Colgate e Solides, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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