Merci, Paris (obrigado, Paris) foi a expressão que tomou conta das redes sociais na segunda-feira pós cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Comitê Olímpicos Nacionais, atletas e fãs fizeram questão agradecer à capital francesa pelos 15 dias cheios de novas emoções e eternas alegrias.
De fato, foram duas semanas de uma catarse coletiva para os apaixonados por esporte. Depois dos Jogos da pandemia em Tóquio (sem público, sem abraços, sem ativações), toda a demanda olímpica reprimida viu em Paris sua redenção.
O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, afirmou em sua entrevista coletiva de encerramento que “Paris e Jogos Olímpicos foi uma história de amor”. Já o jornal americano The Washington Post cravou: “Os Jogos precisavam de um reset. Obrigado a Paris por ter proporcionado isso”.
Sim, foram Jogos diferentes, com menos exageros desnecessários em todas as frentes. E com um savoir vivre (saber viver) que só Paris sabe proporcionar.
A olho nu, menos obras para estádios megalomaníacos (elefantes brancos em potencial), menos voluntários sem função e mais transporte público para todos os clientes (de jornalistas a torcedores, passando por vips e atletas). Confesso que achei que a combinação dos dois últimos fosse gerar um certo caos que, felizmente, não se confirmou.
No lugar de distantes e do até certo ponto obsoleto conceito de “Parque Olímpico”, Paris decidiu inverter a lógica: em vez de buscar um espaço (distante do centro normalmente) para abrigar instalações esportivas, salpicou seus principais cartões postais com locais de competições, proporcionando imagens que desde já entram para a história olímpica.
Foram também Jogos com menos carne vermelha em nome da sustentabilidade (o que gerou uma gritaria das delegações na Vila dos Atletas), com um Centro de Imprensa mais modesto (refletindo o dinamismo da geração de notícias nos tempos atuais) e com mais proximidade entre atletas e fãs graças não só ao super acerto do Parque dos Campeões, onde medalhistas de todos países foram celebrados em praça pública, mas também a áreas de aquecimento coladas nos torcedores como nos vôleis de praia e de quadra. Sem falar, obviamente, da cerimônia de abertura ao longo do Sena e da Maratona para Todos, permitindo que corredores comuns percorressem os 42,195 km olímpicos.
Os patrocinadores, esses começaram a fazer parte da narrativa de maneira quase orgânica, chocando os mais puristas. As arenas continuam virgens – sem placas com marcas – mas foi impossível não perceber as selfies com Samsung no pódio, as moças da Louis Vuitton carregando as medalhas durante as cerimônias de premiação e, claro, os copos temáticos da Coca-Cola nas mãos dos torcedores.
Nesse sentido, Paris foi palco também para ativações potentes, em especial do universo da moda. A badalada Avenida Champs Elysées ganhou lojas pop-up de diferentes marcas, como Adidas, Lacoste e Lululemon, além das legítimas Havaianas, todas querendo se posicionar fortemente na capital fashion do mundo. Mas nada se compara à ousadia da Nike, que envelopou apenas o templo da arte moderna do mundo, o Centre Georges Pompidou, e fincou lá dentro uma exposição para exaltar o seu icônico Air Max.
Nos Jogos em que a igualdade de gênero e racial foi pauta fundamental, a foto da reverência à Rebeca Andrade no primeiro pódio 100% negro da história da ginástica artística traduz com perfeição a nova era olímpica (em que pese o recurso romeno pelo bronze) ao mesmo tempo que incorpora tão bem os valores Olímpicos de excelência, amizade e respeito.
Sabem o que é o melhor? Os Jogos Paralímpicos Paris 2024 começam daqui a menos de 15 dias.
Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte