A Ferrari azulada por conta do recém-anunciado acordo estimado entre US$ 90 milhões e US$ 100 milhões anuais com a HP pode ter sido apenas a ponta do iceberg do novo horizonte da Fórmula 1 nos Estados Unidos, tendo como marco o GP de Miami.
Muito já foi dito sobre o objetivo da Liberty Media de conquistar o mercado norte-americano. Ok, a F1 já era um negócio global, mas a verdade é que não há negócio verdadeiramente global sem engajar o maior mercado do planeta.
As medidas foram tomadas nesse sentido, com três corridas em solo norte-americano e a iniciativa pioneira do Drive to Survive, mostrando narrativas até então desconhecidas do grande público.
Depois de plantar e investir, a F1 começa a colher. E a terceira edição do GP de Miami, vencido por Lando Norris no último domingo (5), aponta essa tendência.
Fato é que a Ferrari azulada pode ter sido o negócio mais vistoso do fim de semana, mas, na prática, todo o ecossistema da F1 festejou mesmo é o jorro de dólares de patrocinadores entrantes, em sua maioria baseados nos Estados Unidos.
Um alentado artigo publicado pelo jornalista especializado Luke Smith no portal “The Athletic” indica que, segundo dados da Williams, o início da temporada 2024 da F1 contabilizou o ingresso de 23 novas marcas patrocinadoras nos dez times da categoria, sendo que 48% delas são de empresas com base nos EUA. A tradicionalíssima equipe britânica provavelmente é o mais perfeito exemplo desse movimento, com dois terços de seus principais investidores tendo capital norte-americano. Não por acaso, o time pelo qual Nelson Piquet foi tricampeão mundial abriu um escritório comercial em Nova York.
A McLaren, do novo vencedor Lando Norris, não é de hoje que tem operação dos dois lados do Atlântico, inclusive com equipe na Indycar e um prolífico intercâmbio de patrocinadores. O time comandado por Zak Brown, a exemplo do que fez a Ferrari com a HP, também aproveitou a corrida de Miami para anunciar patrocínio do eBay.
A cidade, claro, festeja e apresenta números também superlativos. O artigo no “The Athletic” cita o presidente do GP de Miami celebrando o impacto de US$ 800 milhões ao longo dos dois primeiros anos, com incremento de 29% da edição pioneira em 2022 para a do ano passado, quando os visitantes deixaram mais de US$ 195 milhões na região de Miami.
Por fim, a surpreendente vitória de Norris ainda motiva ainda mais, considerando os dados de audiência da F1 nos EUA. Não é novidade que o público norte-americano, fã de playoffs e entusiasta de grandes reviravoltas e “Cinderella Stories”, aprecia demais a imprevisibilidade. E aqui vale muito fazer um generoso parênteses para a corrida da Nascar no Kansas, também no domingo (5), que foi vencida por Kyle Larson pela menor margem da história: 0.001s sobre Chris Buescher.
Um “outsider” ganhando pela primeira vez em Miami é um chamariz importante para o público, uma vez que a F1 registrou queda de 9,1% de audiência nos EUA na temporada passada, algo em parte atribuído ao domínio avassalador da Red Bull de Max Verstappen.
Luis Ferrari é sócio-fundador da Ferrari Promo, agência-boutique com ênfase no mercado do esporte a motor, e possui formações em Jornalismo e Direito, extensão universitária em Marketing e pós-graduação em Jornalismo Literário, além de ser empresário de relações públicas e diretor de marketing e comunicação do Club Athletico Paulistano. Ele escreve mensalmente na Máquina do Esporte