Caso nenhum desvio de rota aconteça, Samir Xaud será aclamado presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no próximo domingo (25). Uma eleição que foi comandada a toque de caixa por Fernando Sarney, nomeado interventor da CBF pela Justiça do Rio de Janeiro na semana passada e que já “resolveu” a sucessão de Ednaldo Rodrigues.
LEIA MAIS: Após articulações, Samir Xaud será eleito presidente da CBF
Desde que Rodrigues foi afastado do cargo e as eleições foram anunciadas, os bastidores do futebol brasileiro entraram em ebulição. E o que agora está posto é um “racha” que pode interferir no futuro do negócio.
Ou, pelo menos, acomodará de vez as mudanças que vêm acontecendo no futebol brasileiro há quase uma década. Desde que o Fifagate levou José Maria Marin para a prisão e pouco tempo depois ejetou Marco Polo Del Nero da sala de controle do cargo mais poderoso do futebol nacional, um vácuo de poder se formou.
Não tem novidade alguma a escolha de Ednaldo Rodrigues ou de Samir Xaud para a presidência da CBF. Como acontece desde sempre, é a política que manda no futebol. É ela que escolhe presidente de clube, de federação, de confederação (nacional e internacional). É ela que determina qual cargo será ocupado onde e, principalmente, quando.
É por isso que qualquer movimento que seja feito no universo da bola precisa, necessariamente, passar por um crivo político.
É só ver a disputa recente entre a Uefa e os principais clubes europeus, que queriam criar a Superliga Europeia de Clubes e mudar o eixo de poder da entidade europeia para um grupo de entidades afortunadas e seus dirigentes políticos. O projeto foi sepultado, e ao mesmo tempo a Champions League ganhou um novo formato, mais inchado, com mais times e maior receita de mídia e patrocínio, que foi mais pulverizada entre clubes de toda a Europa.
Ou o duelo recente que a Fifa teve na criação do Super Mundial de Clubes. A entidade pressionou e conseguiu montar o torneio, dividindo uma cifra bilionária para as instituições. Ao mesmo tempo, aumentou a Copa do Mundo de seleções e distribuiu mais receita entre as confederações.
O que tudo isso difere do sistema que remunera federações estaduais e seus presidentes no futebol brasileiro? Ou que faz os clubes manterem suas federações do jeito que estão?
A única diferença, do exterior para o Brasil, é que o produto futebol é mais bem trabalhado comercialmente pela Fifa, pela Uefa, pelas ligas e pelos clubes lá fora do que aqui.
E esse é o maior desafio que tem pela frente o novo presidente da CBF. Ele precisa isolar o negócio da política.
Como bem fez o Real Madrid, que é uma entidade essencialmente política, com um dirigente que se perpetua no poder, mas que construiu um sistema vencedor dentro de campo e com receitas sempre elevadas fora dele.
Ou como faz a Uefa com maestria. Mesmo com Michel Platini condenado e afastado dentro do Fifagate, a imagem da instituição e de seu principal produto, a Champions League, não sofreu qualquer arranhão. Pelo contrário. Ficou ainda mais global e rica.
Samir Xaud talvez consiga ter mais estabilidade política para promover mudanças na gestão da CBF, tirar o foco da entidade e ganhar o status de grande estrategista.
O acerto com Carlo Ancelotti é o primeiro ato de um movimento que pode ser ainda mais ajustado com a transferência da responsabilidade em organizar as Séries A e B do Brasileirão para as mãos dos clubes e com o desenvolvimento, de fato, do futebol feminino e das competições regionais, ainda um importante polo desenvolvedor do esporte.
Dinheiro em caixa, para tudo isso, não falta. E, se trabalhar ainda mais o produto seleção masculina adulta, a tendência é de que mais verba exista para investir no desenvolvimento do futebol.
O melhor negócio para a CBF é fazer o futebol brasileiro prosperar. A política é parte fundamental do sistema. Desde que a Football Association foi criada, em 1863, é assim que o futebol é organizado.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo