O colapso do modelo de venda de direitos de TV nos EUA

Los Angeles Dodgers, da MLB, recebeu US$ 196 milhões pelos direitos regionais da Sports Net LA na última temporada - Reprodução / Twitter (@DodgerInsider)

O mercado americano de venda de direitos de transmissão é, sem qualquer comparação, o maior do mundo. As quatro grandes ligas esportivas (NFL, NBA, MLB e NHL) faturam mais de US$ 20 bilhões no ano com a venda de suas transmissões.

Mas uma parte substancial desse negócio está em vias de entrar em colapso, podendo alterar de forma significativa a geração de receita para os times da NBA, da MLB e da NHL.

Desde o começo do ano, o mercado americano tem visto a falência de diversos canais regionais de esportes. Esses canais são uma espécie de “invenção” dos Estados Unidos. Com dimensões continentais e diversas peculiaridades regionais, pequenos grupos de mídia foram se formando para reproduzir conteúdo local.

Durante cerca de 30 anos, esses canais regionais foram vendendo seu sinal para as empresas de TV a cabo e satélite, que por sua vez ofertavam um pacote de canais específicos para o público final.

Nesse modelo, popularizaram-se diversas emissoras locais de esportes, notícias e previsão do tempo. É algo parecido com o que temos nas afiliadas das TVs abertas pelo Brasil, mas voltado para temas específicos e no modelo de distribuição de TV paga.

Os canais regionais de esportes foram, assim, uma espécie de “solução” para um problema da NBA, da MLB e da NHL. As três competições possuem uma temporada regular ultrainchada, com quase uma centena de jogos antes da qualificação para os playoffs. Como os contratos de mídia das TVs nacionais nos EUA não preveem a exibição de todas as partidas das equipes, as emissoras regionais se tornaram as detentoras dos direitos de transmissão locais de vários desses times.

Historicamente, as ligas americanas liberam os clubes para venderem seus jogos localmente. Isso fez surgir um universo paralelo de direitos de transmissão na NBA, na MLB e na NHL. Estas ligas, atualmente, fazem uma receita extra de cerca de US$ 4 bilhões com a venda dos jogos para os canais regionais.

O problema é que, desde janeiro, diversas dessas redes entraram em colapso. O público tem trocado essa solução regional por aquisição de serviços de streaming ou mesmo para cortar custos diante de um cenário de alta de inflação e crise econômica.

Em março, a Diamond Sports, que opera 19 canais com a marca Bally Sports, decretou falência, acusando uma dívida de mais de US$ 9 bilhões. A rede é responsável pela transmissão regional de mais de 30% dos jogos de NBA, MLB e NHL. Grandes grupos de mídia, como NBC e Discovery, também anunciaram que estão se desfazendo de seus canais regionais e renegociarão seus acordos com os times.

Essa situação tem gerado pânico para as equipes. O Los Angeles Dodgers, da MLB, por exemplo, recebeu US$ 196 milhões pelos direitos regionais da Sports Net LA na última temporada. A franquia, agora, vê em risco esse negócio.

Por enquanto, não há previsão para que o negócio das TVs regionais acabe. Mas, ao que tudo indica, esta é uma receita de mídia que o esporte americano está bem próximo de deixar de ter.

O colapso desse sistema deve gerar uma nova realidade para o esporte nos EUA. E isso pode vir a se refletir no restante do mercado mundial de mídia.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo

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