Se você trabalha na indústria do esporte cuidando de alguma propriedade, seja um time, uma liga, uma arena, um evento, ou algo semelhante, já deparou, sem dúvida, com a tradicional discussão entre as turmas que cuidam do produto e do financeiro sobre o dilema custo x investimento.
Propriedades como as listadas acima, com exceção dos direitos de transmissão e da transferência de jogadores, casos expressivos no futebol, têm como principais fontes de receita os valores provenientes de patrocinadores e de fãs. Usando um evento esportivo que ocorre anualmente como exemplo, podemos imaginar que o time de produto tem um desafio enorme de focar em inovações em todas as edições que sejam capazes de atrair patrocinadores e sempre trazer algo novo para os fãs que naturalmente esperam ser surpreendidos.
A grande questão é que, às vezes, essas novidades que normalmente representam um custo adicional à planilha do evento podem não ser imediatamente adquiridas por patrocinadores, e é aí que surge o velho dilema gasto x investimento.
A contabilidade define que gasto é o valor empregado pela companhia para desempenhar sua atividade-fim e/ou a quantia designada para pagar uma atividade inesperada e não prevista no orçamento. Já investimento é um tipo de despesa que agrega valor ao negócio e sempre é praticado com a intenção de obter algum retorno.
Em 2022, tínhamos o desafio de criar um novo espaço dentro da nossa etapa do Championship Tour (CT) em Saquarema (RJ) que cumpriria a função de alimentação e entretenimento, algo novo até então para eventos dessa natureza e de uma complexidade alta, já que teríamos uma cozinha temporária, pratos típicos dos diversos países pelos quais o tour passa e uma estrutura sob a areia de água e esgoto sustentável montada exclusivamente para esse ambiente. A ideia era ótima e o resultado do WSL Beach Gourmet foi espetacular, mas, no momento prévio ao evento, enquanto tudo era só um projeto representado em 3D no PowerPoint, nenhum dos parceiros comerciais se interessou.
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Aprendemos muito com o Beach Gourmet e, por isso, em 2023, aprimoramos o modelo com as lições da operação do ano anterior. Dessa forma, investimos em uma cenografia melhor e em um belo line-up de artistas para fazer shows diários no fim de tarde, cuidamos da seleção de parceiros de alimentos e bebidas e promovemos essa nova atração para garantir que a praia toda soubesse da nova opção. Nasceu, assim, o Banco do Brasil Som & Surfe, a segunda geração do WSL Beach Gourmet.
![](https://i0.wp.com/maquinadoesporte.com.br/wp-content/uploads/2023/08/wsl_som_surfe.jpg?resize=1024%2C576&ssl=1)
Será que teríamos a capacidade de conceber o Banco do Brasil Som & Surfe se nunca tivéssemos aprendido com o WSL Beach Gourmet?
É natural que o cenário mais confortável seja aquele em que todas as inovações implementadas em uma propriedade esportiva já nasçam compradas por um parceiro comercial, porém nem sempre é assim que acontece e, de alguma forma, isso pode ser um limitador da criatividade e da expansão.
Por outro lado, a famosa frase “Se vocês construírem, eles virão”, eternizada no filme “O campo dos sonhos”, estrelado por Kevin Costner, nem sempre funciona no mundo real e pode ser uma filosofia que leva a grandes prejuízos.
Como diria Warren Buffet: “O risco vem de você não saber o que está fazendo”.
Ivan Martinho é presidente da World Surf League (WSL) na América Latina e escreve mensalmente na Máquina do Esporte