Leila Pereira conseguiu transformar o figurativo cargo de “chefe de delegação” de dois amistosos da seleção brasileira em uma plataforma para autopromoção nunca aproveitada por dirigentes do futebol nacional.
A última semana do mês de março ficou marcada pela demonstração de uma enorme capacidade de atração e sedução que Leila tem não apenas com o torcedor do Palmeiras. Coube à presidente do clube, no papel que geralmente é figurativo na seleção, roubar a cena e liderar a narrativa na semana que deveria marcar o início dos trabalhos de Dorival Júnior à frente da seleção brasileira.
Leila parece estar fadada a estar na hora certa e no momento certo. O primeiro ato dela na seleção foi, de certa forma, dar voz à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) dentro de um tema delicadíssimo.
A dirigente conseguiu fazer da tempestade Daniel Alves e Robinho o palco para se posicionar e cobrar do próprio futebol ser menos machista e tentar conter a cultura do estupro. Nas redes sociais, Leila multiplicou a voz que não foi calada como tantas outras. Ela soube usar do momento de estar com a seleção e trazer à tona o que todos sabemos e que pouco combatemos. O futebol é o ambiente propício para proliferação de atitudes violentas, especialmente contra as mulheres.
Após o posicionamento de Leila, a CBF tentou se manifestar para falar daquilo que todos cobrávamos. Ter dois ex-jogadores de destaque do time nacional condenados por estupro é sinal de que algo está errado e não pode ser silenciado.
O segundo ato de Leila Pereira veio com o uso das redes sociais para trazer bastidores de como é a concentração dos jogadores. Ao postar as palavras de incentivo e agradecimento que fez aos atletas depois dos dois amistosos e ainda do “trote” que levou por estar pela primeira vez com o time nacional, a dirigente humanizou o relacionamento que existe na seleção e aproximou um pouco mais o time do torcedor.
Parece exagero imputar a Leila, mais do que ao relativo sucesso do time brasileiro em campo, a boa primeira semana de Dorival no comando da seleção. Mas a presidente do Palmeiras consegue ter um poder midiático que reverbera as ações que faz, o que amplia o alcance daquilo que acontece dentro do ambiente em que ela está.
Leila Pereira conseguiu ser o centro das atenções positivas na semana em que a seleção brasileira foi colocada à prova e passou bem no teste. Mas, muito mais do que as questões dentro de campo, o que a dirigente conseguiu provar é que ela tem o dom da atração.
Pela primeira vez, um chefe de delegação chamou mais a atenção do que o próprio time. E mostrou que ainda existe muito espaço para Leila crescer como liderança no futebol. Em seu terceiro ano como presidente de clube, ela parece ter entendido como se destacar. Não que a concorrência seja assim de outro mundo, mas Leila Pereira tem furado a bolha da torcida do Palmeiras para ser a “Tia” do futebol brasileiro.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo