Caro leitor,
Se você me acompanha aqui, sabe que adoro buscar paralelos e oportunidades entre o universo dos esportes e os games.
A ideia aqui era falar do recente anúncio da cada vez mais provável entrada dos e-Sports no programa olímpico.
Confesso, no entanto, que não tenho ânimo no momento para falar sobre o assunto. Volto a tratar disso depois.
Tive a (in)felicidade de fazer uma parte do curso de Máster em Olimpismo (infelizmente não terminei, por isso a infelicidade), curso esse que tem por trás o Comitê Olímpico Internacional (COI).
Ali, tive uma boa ideia do que é o Olimpismo e seus ideais. Aprendi mais sobre Barão de Coubertin. Inspirei-me em histórias mundo afora de como o esporte muda a vida das pessoas.
Ao pensar no artigo deste mês, um pensamento tomou conta da minha cabeça:
Como serão os Jogos Olímpicos na França no ano que vem?
Nesse lapso temporal, tende a se deixar desavenças de lado, em prol dos valores centenários da competição e de seu movimento maior.
Claro que há todo um repertório regulatório para evitar manifestações mais obtusas ou indesejadas.
Mas até onde vai esse limite? Em especial em um 2023 que está colocando a ordem internacional de ponta-cabeça.
Se para a Organização das Nações Unidas (ONU) não está fácil, fico imaginando para o COI.
Sou um cara de otimismo moderado (afinal, a vida é o que é, e está tudo bem), e a intenção não era criar um clima apocalíptico para a próxima edição dos Jogos Olímpicos.
Mas não consigo deixar de pensar nas várias dimensões que, ao meu ver, impactam a realização do evento, ou servem para ilustrar meu sentimento.
São elas:
- O ano abriu feridas cada vez mais profundas em israelenses, palestinos, russos, ucranianos e um sem-fim de guerras regionais que a gente nem tem ideia (que diga a África). Não só pessoas nascidas nesses países mas também aquelas que fazem parte do mesmo povo, religião ou ainda nutrem simpatia por questões históricas estarão presentes como atletas. Qual é o limite do fair play em um mundo como esse? Já vi isso acontecer no judô, por exemplo, em que um atleta argelino se recusou a lutar com um israelense;
- Ainda muito criança, lembro-me das Olimpíadas de Moscou, em 1980. Quem tem cabelo branco, se lembrará do ursinho chorando no final do evento. À época, não entendia o motivo do boicote dos EUA (como assim alguém não quer ganhar medalhas???). Será que não teremos uma situação assim também?;
- Ao mesmo tempo que Paris já demonstrou sua capacidade de receber eventos de grande porte, infelizmente já perdi a conta de atentados por lá;
- O que dizer de Munique, em 1972?;
- Seria essa a edição com maior número de refugiados da história?;
- Tenho para mim que será a edição com maior manifestação política já vista, seja do público, seja dos atletas. E o que o COI fará com isso?;
- Guga Chacra, da Globo News, chamou a atenção para torcidas no Marrocos (Raja Casablanca) e Egito (Al Ahly) entoando gritos contra Israel;
- Em um documentário do canal Vice no YouTube (muito bom, a propósito), o tema do vídeo falava das rivalidades entre torcidas pelo mundo. O que eu vi na região da Guerra da Bósnia, não tenho estômago para descrever aqui.
O mundo não é para amadores.
Tenho para mim que os grandes eventos esportivos serão impactados definitivamente por isso.
Eu torço. Torço pela paz.
Alessandro Sassaroli é diretor comercial de gaming na Webedia Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte