O rúgbi precisa ser grande no Brasil

Bola e troféu da competição "passearam" por Paris antes do início do torneio - Aurelien Meunier / World Rugby

Talvez você aí no Brasil não saiba, mas a bola (oval) está rolando para o terceiro evento esportivo mais importante do mundo, atrás somente dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo de Futebol. Desde 8 de setembro, a França é a sede da Copa do Mundo de Rúgbi, justo a edição emblemática que celebra 200 anos da criação da modalidade. A abertura no Stade de France teve jogão: a Nova Zelândia (sim, você já ouviu falar dos All Blacks e do haka, tenho certeza) atuando contra os donos da casa, diante de um estádio lotado cantando a Marselhesa e postando nas redes críticas à Cerimônia de Abertura que antecedeu a partida.

A França quer o título inédito de campeã do mundo e começou logo vencendo os tricampeões mundiais. Se o resultado não pode ser chamado de zebra, no mínimo foi surpresa, pois os All Blacks jamais tinham perdido na fase de grupos em uma Copa do Mundo. E, obviamente, animou ainda mais o clima do evento por aqui.

A Copa do Mundo de Rúgbi tem sido vista por alguns como um “esquenta de luxo” para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos daqui a menos de um ano. Tem fan fest lotada na Praça da Concórdia, no coração de Paris. Tem ativações de patrocinadores por toda a cidade. E tem o presidente Emmanuel Macron falando em “conquistar o coração das pessoas”, na linha do que desejam os Jogos de 2024: reforçar a imagem do famoso “savoir faire” francês, sua arte de viver, sua cultura e história.

Com cifras polpudas, a Copa do Mundo de Rúgbi também tem a ver com negócios. O torneio deve injetar cerca de US$ 457 milhões nos cofres da World Rugby (a Federação Internacional da modalidade). Já os organizadores esperam bater o recorde de 857 milhões de telespectadores alcançados na Copa do Japão em 2019. A França, por sua vez, estima receber 600 mil turistas durante as sete semanas do torneio. Foram vendidos 2,5 milhões de bilhetes, e os hotéis, que já são caros e cheios em Paris, estão concorridíssimos e com preço fora da curva. Bares e cafés tradicionais abriram uma exceção, instalaram televisores e têm sido recompensados, pois ficam cheios desde cedo em dias de jogos. É bonito de se ver, ainda mais com o clima pacífico, uma característica marcante e bem-vinda de atletas e torcedores do rúgbi.

São números e dados que podem espantar o torcedor brasileiro, que ainda não consome com apetite esse esporte. Talvez também possa parecer estranho ver a marca italiana Macron vestir o maior número de seleções em campo. Ou saber que o orçamento anual da seleção inglesa de rúgbi, de cerca de US$ 189 milhões, equivale ao da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que foi de R$ 971 milhões no ano passado. Mas o rúgbi é assim, superlativo em boa parte do mundo, sobretudo nas antigas colônias britânicas e na Europa.

No Brasil, porém, o processo ainda está em evolução. A título de comparação, a Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu) tem um orçamento aprovado para 2023 na casa dos R$ 17 milhões. Em que pese a excelente e reconhecida gestão e governança da CBRu, a meta de classificar a seleção de XV masculina para a Copa de 2023 não se tornou realidade. Quem veio para a 10ª edição do torneio na última vaga do continente foi o Chile.

O trabalho da CBRu é elogiável e incansável. Lembro que, em 2015, quando ainda estava à frente da minha agência de comunicação, a entidade era uma das clientes. À época, eles ofereceram ingressos a seus parceiros e patrocinadores que estivessem dispostos a viajar para a Inglaterra para assistir à Copa do Mundo. A ideia, ousada, era mostrar tudo o que o rúgbi podia ser no Brasil, todo o potencial ainda adormecido no país do futebol. Dei sorte de estar em Londres visitando minha irmã e acabei tendo o privilégio de assistir à abertura entre Itália e França no “Maracanã” do rúgbi, o Estádio de Twickenham, com seu clima hospitaleiro. E, de quebra, Nova Zelândia x Argentina, em Wembley. Saí trocando as bolas, totalmente apaixonada.

Parafraseando a genial campanha da agência Talent para a marca Topper, há cerca de dez anos: “Rúgbi, isso precisa ser grande no Brasil”.

Espero que não demore.

Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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