Comprar uma peça de memorabília é um investimento. Já ouvi de algumas pessoas que não entendem as pequenas – e grandes – fortunas que são empenhadas por colecionadores em peças únicas, raras e/ou históricas do mundo esportivo. Não é fácil entender, realmente, primeiro porque é um mercado em que há avaliações um tanto subjetivas, segundo porque é difícil mesmo entender a cabeça de um colecionador.
A primeira coisa que se aprende em um mergulho no mundo da memorabília é que o colecionador não “gasta“ com memorabília. Ele “investe“. E a explicação é simples: o arrependimento por desembolsar valores tão altos vai ser um pouco mais leve. Mas, brincadeiras à parte…
Todas as semanas pipocam notícias sobre peças que alcançam patamares absurdos de venda. Quase sempre (ou sempre), isso acontece nos EUA, onde esse mercado é bem pesado, maduro, aquecido e bilionário. Em uma coluna, falei sobre esse mercado e sobre os estimados US$ 5,4 bilhões que se movimenta.
Todo colecionador se cerca de garantias para a aquisição de suas novas peças: certificados, selos, procedência e documentos que comprovem a originalidade e autenticidade dos itens. Investir em uma memorabília depende de uma combinação perfeita entre oportunidade e bolso. E, se a sorte é fundamental para os bons negócios, não se pode ignorar o “poder do azar“. E mais: é impossível prever o imponderável.
Nesse mês, um caso bem inusitado mexeu com o mercado. Em 1º de fevereiro, Tom Brady anunciou sua aposentadoria. O lendário quarterback, que atuou pelo Tampa Bay Buccaneers nas duas últimas temporadas da NFL, acabou protagonista de uma situação curiosa: a bola do último passe para touchdown da carreira do marido de Gisele Bündchen foi arrematada por US$ 518 mil (R$ 2,6 milhões) no último dia 12 por um colecionador. E a bola teria potencial para alcançar até US$ 1 milhão em alguns anos.
Teria sido uma excelente combinação de oportunidade e bolso. Teria.
Quando se investe em uma memorabília, os valores sentimental, histórico e, claro, financeiro, são levados em consideração. Uma memorabília é sempre mais cobiçada pelo seu potencial de valorização. E quando falamos da bola do último passe para touchdown da carreira de um dos maiores atletas de todos os tempos…
Aí veio o dia seguinte e a história virou poeira. Brady surpreendeu o mundo e anunciou que seguiria para mais uma temporada na Flórida. Alegria de milhões e desespero de um: com a novidade, a bola virou apenas “mais uma bola“ e perdeu mais de 90% de seu valor, sendo avaliada hoje em cerca de US$ 50 mil (cerca de R$ 250 mil). E com chances de perder ainda mais valor com o passar do tempo.
A melhor frase que li dessa situação foi: dormiu com um “diamante“ e acordou com um pedaço de vidro. Não dá mesmo para prever o imponderável.
Li em alguns lugares que o colecionador estaria buscando os “seus direitos“ para recuperar o valor investido. Mas não há o que fazer. Na data do leilão, a bola era a do “último touchdown“. Conhecendo o mercado americano, não vai me surpreender se o próprio Brady ou os Buccaneers “aprontarem“ alguma surpresa para minimizar a frustração do fã/colecionador. É parte do show, e isso os americanos fazem como ninguém.
E se você fosse o comprador? E se você fosse Brady ou os Buccaneers? O que faria?
Samy Vaisman é jornalista, sócio-diretor da MPC Rio Comunicação (@mpcriocom), cofundador da Memorabília do Esporte (@memorabiliadoesporte) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte