Entrevistas de atletas e dirigentes em coletivas de imprensa ou em veículos de comunicação, seja ele um jornal tradicional ou um canal de influenciador em ascensão, são a ponte entre os protagonistas dos campos e quadras com os torcedores. É o momento em que todos percebem personalidades, e uma ligação mais profunda pode acontecer. Essa exposição é essencial, mas, rotineiramente, é também uma fonte de crises desnecessárias.
Somente na última semana, os clubes que mantêm as três maiores torcidas do país viram entrevistas coletivas terminarem de forma indesejada. Sylvinho, agora ex-técnico do Corinthians, irritou os torcedores ao negar o que foi claro na partida anterior. Rogério Ceni, do São Paulo, deixou escapar uma crítica ao ex-presidente do clube ao comentar a situação de um atleta. E o vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, se irritou publicamente com a situação de um zagueiro.
Claro que essas questões estiveram longe de ter grandes repercussões, mas é fato que elas são constantes no futebol e no esporte de forma geral. Pequenos atos, em longo prazo, representam problemas para as entidades e para os profissionais. E, pior, nem sempre são tão pequenos assim.
Há duas semanas, por exemplo, Rafael Sóbis deu uma declaração catastrófica em uma entrevista ao afirmar que havia ajudado o Internacional na luta contra o rebaixamento na época em que atuava pelo Cruzeiro. É a típica colocação que põe em xeque toda a credibilidade do esporte, especialmente quando clubes estão em situações delicadas, e o clima de “entrega” costuma ganhar força entre grupos de torcedores.
Mais uma vez, temos um exemplo cedido há apenas poucos dias. É muita polêmica em curto espaço de tempo para uma indústria do entretenimento que vive da imagem e da reputação frente aos seus consumidores. E mais do que o necessário para afastar parcerias que, naturalmente, são avessas a polêmicas.
Essa constância está longe de ser exclusividade do futebol. Em diversas modalidades, atletas e dirigentes parecem falar mais do que devem com constância. Algo que atinge também outras indústrias, mas é difícil apontar outra área em que esse tipo de comportamento gere tanto barulho.
Por isso, é fundamental que entidades esportivas comecem a ter um maior controle sobre seus discursos. Não como forma de censura aos seus agentes, mas como faz qualquer grande empresa. Não se deve podar atletas de se expressarem, mas é necessário deixar claro o peso das palavras e o caminho correto para que não surjam problemas que não foram originalmente planejados.
Duda Lopes é CEO da Pivô Comunicação e escreve mensalmente na Máquina do Esporte