Na semana passada, participei de mais uma etapa do Programa de Desenvolvimento de Formadores de Treinadores que a FIFA está realizando em conjunto com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aqui no Brasil. O curso contém várias etapas, desde conteúdos on-line e aulas presenciais, até mentoria no final. É um programa completo para capacitar ainda mais nossos professores e professoras das Licenças da CBF. Ser escolhida para participar deste programa foi uma honra, já que, entre os alunos, há só professores renomados da área, muitos doutores, treinadores, coordenadores e outros profissionais de gabarito, tanto no futebol quanto no futsal.
O curso basicamente tem como premissa formar os formadores dos treinadores. Parece um pouco paradoxal e redundante, mas a ideia é simples: precisamos que os formadores dos nossos treinadores e treinadoras sejam cada vez mais capacitados e tenham cada vez mais habilidades para formar melhor ainda todos os treinadores que passam pelas Licenças da CBF e que estão na linha de frente com os nossos atletas.
Resolvi tocar no assunto deste curso porque precisamos urgentemente falar da formação dos nossos treinadores, principalmente pensando de forma específica no Brasil. Infelizmente, grandes discussões polarizadas, que quase sempre nunca levam a nada, colocando ex-jogadores(as) e acadêmicos de lados opostos, ainda são sempre levantadas. Superar esse paradigma e juntar nossas forças é fundamental, pois todo conhecimento é relevante, e profissionalizar a profissão de treinador(a) não exclui ninguém.
O movimento de capacitação e profissionalização da profissão é recente. Para se ter uma ideia, o primeiro curso ofertado pela entidade máxima brasileira, a CBF Academy, só aconteceu em 2009, menos de 15 anos atrás. Ainda estamos longe da profissionalização e da exigência para que o treinador(a) passe pelo processo de formação para poder atuar na área em todo o território nacional. Mas o movimento está crescendo, e o profissional que não se qualificar ficará para trás, não importando se trabalhará com homens ou mulheres.
A Federação Paulista de Futebol (FPF), uma entidade que sempre foi de vanguarda, foi a primeira do país a tornar obrigatório em seu campeonato masculino adulto que o(a) treinador(a) tivesse o curso das Licenças de Treinadores da CBF. Isso, porém, é muito recente. Aconteceu em 2019, mesmo ano em que a CBF também começou a fazer as exigências. Para que a FPF pudesse chegar na obrigatoriedade, foi feito, e ainda é, um trabalho incessante de apoio, incentivo e de bolsas, para que os(as) treinadores(as) dos clubes paulistas pudessem entrar nos cursos ofertados pela CBF Academy.
Em 2022, a Federação Paulista inovará mais uma vez. Pela primeira vez na história, os treinadores dos clubes que disputam as competições de base (Sub-17, 15, 13 e 11), terão como exigência as Licenças da CBF Academy. Será necessária a Licença B para as competições Sub-17 e Sub-15, e a Licença C para as competições menores.
É uma atitude muito importante, principalmente pensando a longo prazo e na melhor formação dos nossos jogadores. Formar um melhor cidadão e atleta e ter um jogo cada vez melhor e atrativo passam pelas mãos e pela responsabilidade dos profissionais que estão inseridos no processo. Não podemos virar as costas. Temos que assumir a responsabilidade e exigir qualificação.
As exigências de capacitação e profissionalização estão crescendo cada vez mais e tomando corpo. Contudo, o caminho ainda é longo e grandes ajustes ainda precisam ser feitos para que todos possam ter acesso às capacitações e ao conhecimento. Precisamos aumentar muito a capilaridade. Mas temos de reconhecer as boas iniciativas que já estão sendo feitas, como esta da FPF, que é um marco importante, pois foca na melhor formação dos atletas. Os frutos serão colhidos daqui a alguns anos.
A revolução do futebol brasileiro só acontecerá quando tivermos cada vez mais treinadores/professores qualificados, em todas as idades e gêneros, mas principalmente na formação. O movimento dentro do futebol feminino ainda é tímido, as entidades apenas recomendam essa qualificação até o momento, mas em breve as exigências também chegarão na categoria, qualificando ainda mais a formação das nossas meninas também.
Ana Lorena Marche é coordenadora de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol (FPF) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte