No final das contas, os dois craques mais cobiçados pelo futebol mundial, Haaland e Mbappé, jogarão na próxima temporada nos novos-ricos do mundo da bola. A dupla mais promissora não foi seduzida por ofertas de times tradicionais, como Juventus, Bayern de Munique, Manchester United ou Real Madrid. Ambos aceitaram propostas financeiramente mais vantajosas. Algo surpreendente? Nem um pouco.
Erling Haaland, de 21 anos, talvez busque a glória no Manchester City, último clube de alto nível em que jogou seu pai, Alf-Inge Haaland. O fato de atuar em um time que disputa títulos, treinado por Guardiola, sem dúvida é atraente. Mas o novo salário do norueguês, de £ 2 milhões, também teve um enorme peso na escolha.
A decisão de Mbappé, de 23 anos, de renovar com o PSG é ainda mais esperada. O francês ficará no clube em que atua há cinco temporadas, conhece todo mundo, não precisará aprender outro idioma e joga em sua cidade natal. Ainda ganhou a regalia de opinar sobre a formação do elenco e a contratação de treinador. Tudo por € 50 milhões por temporada, maior salário do futebol mundial.
O grande desafio de Haaland e Mbappé para os próximos anos será a conquista da Champions League, taça que ainda falta na sala de troféus do Parque dos Príncipes ou do Etihad Stadium. Muitos dizem que PSG e City são times sem história em competições grandes. Nesta temporada, tanto o clube francês como o inglês foram eliminados pelo maior representante da tradição, o Real Madrid, que de quebra também despachou o Chelsea, outro representante dos novos-ricos.
No entanto, como o próprio Chelsea já mostrou, essa conquista é apenas questão de tempo. Se os investimentos forem mantidos, fatalmente PSG e Manchester City alcançarão a cobiçada orelhuda.
Há uma discussão mais importante, porém, em relação ao domínio financeiro dessas equipes bancadas pelo dinheiro de ditaduras do Oriente Médio. Seria justo para a competição que um time tenha investimento tão superior ao de seus concorrentes?
A realidade local mostra que a competitividade foi abalada. Na França, o PSG ganhou oito títulos da Ligue 1 nos últimos dez anos. Já o City nunca havia sido campeão inglês (desde que a Premier League foi criada, em 1992) até 2011. Desde então, levou para casa seis das 11 taças disputadas na Premier League, incluindo a do último fim de semana.
Porém, tanto a UEFA como as federações nacionais pouco têm feito para obrigar esses clubes a obedecer suas próprias regras de Fair Play Financeiro. PSG e City já foram denunciados várias vezes e receberam penas brandas. Quando a punição foi mais severa, como a que previa a exclusão do City da Champions, acabou rapidamente derrubada em tribunais superiores. Recentemente denunciado pela revista Der Spiegel por violar as regras no passado, a parte celeste de Manchester não sofreu punição alguma.
A renovação de Mbappé fez a LaLiga, da Espanha, prometer denunciar o PSG ante a UEFA. Já a Serie A, da Itália, criticou publicamente o valor dos contratos. Mais um capítulo de bravatas de dirigentes para dar satisfação à torcida local. Nada será feito.
Adalberto Leister Filho é diretor de conteúdo da Máquina do Esporte