Muita gente torcia o nariz ao ouvir indicações de documentários a serem assistidos nas mais variadas plataformas. Mas, de uns tempos para cá, o formato tem se tornado uma febre tão grande nas plataformas de streaming ao ponto de, atualmente, alguns títulos já constarem na lista de mais assistidos em algumas dessas plataformas.
O esporte também está se beneficiando muito dessa onda. Tivemos títulos no passado abrindo a situação do doping, como “Icarus“, mas o maior impacto tem sido causado por séries que exploram a parte do esporte que o fã não consegue ver no dia a dia.
O primeiro destes títulos que me vem a cabeça é justamente a série documental “Arremesso Final“ (“The Last Dance“), que aborda a carreira do astro Michael Jordan e sua história no Chicago Bulls, utilizando conteúdo produzido à época em que Jordan atuava e que não tinha sido exibido em nenhum lugar.
Coloco este como sendo o título que muda um pouco a história dos documentários esportivos e os eleva a um novo patamar pois aconteceu uma coisa curiosa. ESPN e Netflix coproduziram a série, e o acordo foi que a ESPN teria os direitos de exibição nos Estados Unidos, enquanto a Netflix poderia disponibilizar aos seus assinantes em todos os outros países. Ambos tentaram reduzir o próprio risco ao aceitar um sócio, e não imaginavam que a série seria o sucesso que foi, pois no mundo atual, com a guerra do streaming correndo solta, tenho dúvidas de que hoje este acordo seria firmado desta mesma forma.
O efeito foi positivo para os dois lados, mas foi ainda mais positivo para a NBA, que aumentou sua audiência, ampliou sua base de fãs e passou a vender mais merchandising. É notório que os efeitos positivos só aumentam em todas as frentes.
A Fórmula 1 foi outra categoria esportiva que logo percebeu isso e se associou à Netflix para a série “Dirigir para Viver“ (“Drive to Survive“), que já tem quatro temporadas produzidas disponíveis na plataforma. Além do sucesso da série que mostra os bastidores da principal categoria do automobilismo mundial, a própria categoria também viu seus números de alcance, audiência e novos fãs crescer consideravelmente nos últimos anos. Como “cereja do bolo“, a temporada 2021, com a definição do título na última volta da última prova do ano, sem dúvida alguma também ajudou bastante no aumento do interesse dos fãs.
Tentando surfar esta onda, nesta sexta-feira (29), teremos, no Apple TV+, o lançamento global de “Make or Break”, uma série documental dividida em sete episódios que dará acesso aos fãs a detalhes das vidas pessoais e profissionais de alguns dos melhores surfistas do planeta, enquanto lutam pelo título mundial da World Surf League (WSL).
E a “nova febre“ não vai parar por aí. Já temos também outros títulos em produção como as parcerias da Netflix com o PGA Tour (golfe) e com a ATP e a WTA (tênis), com o intuito de mostrar os bastidores do circuito mundial destes esportes.
Pois é, aquela parte do esporte que nós, fãs, sempre tivemos curiosidade de conhecer, agora virou conteúdo premium e está ou estará em breve em uma das plataformas de streaming do mercado. Documentários que, um dia, foram o “patinho feio” do conteúdo, atualmente estão vivendo seu momento de maior destaque entre os fãs de esporte.
Evandro Figueira é vice-presidente da IMG Media no Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte