É sabido que as vendas de ingressos são, na maioria dos casos, a única fonte de renda para manutenção do clube e suas instalações, e que a pandemia foi arrasadora em relação às receitas dos estádios.
Esse período complicado no setor de entretenimento fez com que muitos funcionários fossem demitidos e empresas de serviços tivessem seus contratos reduzidos ou até mesmo encerrados.
Não está sendo fácil ser gestor ou gerir os estádios.
E o custo desse momento tão complicado criou uma situação preocupante no setor: a necessidade de cortes na planilha, tornando as operações superenxutas.
Quantas vezes você, que é o responsável pela operação de jogos e eventos de um estádio, recebeu o “pedido” de um cliente ou da própria diretoria do seu clube para “ser criativo” e rever os custos e diminuir os gastos com a operação do jogo?
É preocupante saber que esse tipo de pedido tem sido cada vez mais constante na operação dos jogos nos estádios em todo o país. Ouvir o “corta na segurança, limpeza ou nos orientadores” é uma prática comum. E aí é se agarrar na sorte para que não dê nada errado, pois, se der, é certeza de tragédia ou, no mínimo, milhares de postagens negativas.
O pior é que, muitas das vezes, o gestor não tem alternativa e tem que aceitar a redução pela manutenção do seu emprego. Com isso, acaba contando com a velha “sorte” já citada, colocando o evento sob riscos que, se concretizados, gera consequências muitas vezes irreversíveis.
Já passou da hora dos organizadores das competições e os clubes repensarem o contexto da operação e entenderem as suas responsabilidades com o público. Saberem que, sem conforto, segurança e o mínimo de higiene, o torcedor não sairá de casa, enfrentando possíveis e distintos desafios para ir ao estádio, ainda mais se levarmos em consideração o avanço e a democratização das plataformas de streaming.
Esse é um processo que precisa ser coletivo, de diferentes esferas. Em um mundo ideal, teríamos a criação de um caderno de encargos com necessidades básicas para a realização das partidas. Não falo dos laudos, que já são solicitados e obrigatórios, mas exigências operacionais mínimas.
O modelo “Match Day Made in Brazil“, ainda é pouco eficaz, para não dizer inexistente. E se torna ainda pior quando se cortam requisitos essenciais como segurança, limpeza e serviços de orientação ao torcedor, achando que, com isso, o valor da operação será reduzido, em uma tentativa amadora, na grande maioria sem uma medição real do impacto possível e, ironicamente, do custo desse impacto.
Fazer isso é uma ação arriscada e pode sair bem mais caro do que se imagina.
Kleber Borges é presidente da Associação Latino-Americana de Gestores de Instalações Desportivas (ALAGID) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte