A Global Sports Week, que aconteceu há cerca de duas semanas em Paris, na França, trouxe para discussão temas importantes não apenas para o esporte, mas para a sociedade em geral, entre eles igualdade de gênero, inovações e, claro, sustentabilidade. Sustentabilidade em seu sentido mais amplo, aliás. Mas aqui vou me ater à questão ambiental, que permeou boa parte das falas dos principais stakeholders da indústria do esporte. Um tema ainda incipiente no Brasil – a sustentabilidade no esporte –, que depende de ações isoladas de algumas entidades e organizadores de eventos. Não se trata mais somente de marketing de causa, é algo vital para o futuro do planeta e para sustentabilidade e relevância do próprio esporte junto aos seus públicos.
A começar por Tony Estanguet, presidente do Comitê Organizador de Paris 2024, os discursos se complementaram. Logo na abertura da Global Sport Week, Estanguet sentenciou: “O esporte tem que ser sustentável. E nós [os eventos de impacto mundial] temos a responsabilidade de guiar o caminho”. E listou as diversas iniciativas a serem implementadas daqui a dois anos: 100% das instalações conectadas por transporte público, aproveitamento de construções existentes para abrigar competições (95% são readaptadas), tratamento de resíduos, energia limpa e redução da pegada de carbono.
“Acredito firmemente que os eventos esportivos podem ser parte da solução e não o problema [do impacto ambiental negativo]”, fez eco o CEO da World Rugby, Alan Gilpin, que organizará na França, em 2023, seu Campeonato Mundial, um dos três mais importantes torneios esportivos do mundo. “Precisamos ser líderes responsáveis, que ouvem, engajam e tomam atitudes”. O famoso ”não basta ser da boca pra fora”.
Se, no Brasil, a bola redonda é quem dita as tendências, então leiam o que Fátima Al Nuaimi, diretora de comunicação e membro do Comitê de Legado da Copa do Mundo FIFA Catar 2022 afirmou: “Não estamos trabalhando há 10 anos para realizar um evento de um mês apenas. Queremos ajudar a desenvolver a sociedade a partir desse evento”. Com todos os seus estádios certificados por excelência ambiental, sendo 90% deles construídos a partir de reaproveitamento de materiais, a Copa do Catar terá menos deslocamentos aéreos e, com isso, menos emissão de CO2. Sem falar nas medidas para acessibilidade de todos os tipos de pessoa com deficiência, sejam cadeirantes, cegos ou autistas, por exemplo.
Ainda no futebol, é a UEFA quem traz um case que mostra a maturidade da entidade do ponto de vista da relação com sua comunidade e conexão com a realidade do seu entorno. Pra começar, ao ouvirem a voz dos fãs, entenderam que 70% deles achava que a UEFA deveria se posicionar na questão da sustentabilidade e do meio ambiente. Dito e feito. A partir do UEFA Innovation Hub, que busca ferramentas, metodologias e recursos para promover inovações em toda a cadeia do futebol europeu, a entidade promoveu o desafio “Reimagine o Futebol” a partir de 2020, ao se deparar com os estádios vazios pela pandemia. Em 2021, os temas foram Economia Circular e Mobilidade Verde. Com quase 80 inscrições de 17 países em cada um dos concursos, a UEFA chegou à startup holandesa Waste Transformers. A partir daí, o lixo dos estádios começou a virar biofertilizante, composto orgânico e geração de energia para as 55 federações nacionais filiadas.
Não há receita. Cada esporte, cada entidade e cada país pode e deve buscar suas soluções a partir do cenário que os cerca. Mas já está mais do que claro que é impossível continuar ignorando o tema. Ainda mais no Brasil, com seu gigantismo e biodiversidade, que deveria ser o primeiro a levantar a bandeira verde em qualquer área.
Embora percorrendo caminhos únicos, a busca pela sustentabilidade deve passar inevitavelmente pelos jovens, se estivermos, de fato, falando de um olhar para o futuro. O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos da Juventude Dacar 2026 acena nessa direção por meio da fala emblemática do seu diretor geral, Ibrahima Wade: “Temos um grupo de 12 jovens que está no centro da disseminação das nossas estratégias de sustentabilidade, sobretudo por meio da mídia digital. É onde o futuro está”.
Manoela Penna é ex-diretora de comunicação e marketing do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte