Menos é mais. O bordão que consagrou o programa “Masterchef” na Band é, hoje, a principal justificativa para que a mesma Band tenha sucumbido na tentativa de manter a transmissão da Fórmula 1 em sua grade a partir de 2026.
O retorno da principal categoria do automobilismo ao Grupo Globo reflete uma lógica de mercado que o esporte brasileiro, muitas vezes, não entende. Mas que, há décadas, é importante parte do segredo do sucesso dos esportes americanos.
A Band ofereceu mais dinheiro e todas as corridas da temporada transmitidas na TV aberta. Na lógica de negócio brasileira, não haveria motivos para não fechar com a emissora.
O que fez a Liberty Media?
Optou por uma parceira que entregará, em tese, menos do conteúdo ao vivo. Mas que, na prática, levará a categoria para muito mais gente a partir da entrega complementar que é oferecida para os fãs e, principalmente, os não-clientes da Fórmula 1.
Nenhum outro grupo de mídia consegue, no Brasil, ser tão multiplataforma e ter tanto alcance quanto a Globo. E isso, nas contas da Liberty, é o que faz toda a diferença na hora de alcançar maiores ganhos com a Fórmula 1.
Desde que assumiu o comando da categoria, é isso o que a empresa de mídia faz. E o melhor exemplo disso é, como sempre, a série “Drive to Survive” dentro do Netflix. Um conteúdo que é sob demanda, publicado com um ano de “atraso”, mas que trouxe um novo público para dentro da Fórmula 1 como nunca antes visto.
A lógica de distribuição de conteúdo aplicada pela Liberty Media faz com que a corrida ao vivo seja, obviamente, importante. Mas não tanto quanto a promoção da F1 para diferentes públicos em diferentes plataformas. Isso faz com que, consequentemente, a corrida ao vivo, no final das contas, amplie sua visibilidade.
A gritaria de boa parte do fanático da Fórmula 1 com o regresso à Globo e seu padrão de não mostrar todos os eventos e “encurtar” as transmissões mostra uma falta completa de entendimento de como é o comportamento do público dentro da emissora.
O amante da F1 celebrou – e muito – que a Band colocava programas extensos pré-prova e, depois dela, mostrava toda a cerimônia de pódio. Na Globo, a tendência é começar a transmissão praticamente na largada e encerrá-la pouco após a bandeira de chegada.
Por que isso a Globo não mostra?
Oras. A Fórmula 1 é um produto de nicho. E, por isso, a transmissão de corridas ao vivo geralmente derruba a audiência da Globo. Na tentativa de manter ao máximo o maior número de pessoas ligadas no canal, a empresa precisa fazer com que o produto que será transmitido esteja o mais próximo possível de seu início. Assim, dá para “segurar” por mais tempo um público que não tem tanto interesse assim na F1, mas que continuará nela ao ver que vai começar a corrida.
Além disso, outros fatores pesam.
O alto índice de audiência dos programas jornalísticos da Globo. A liderança do Sportv na maior parte do tempo na TV fechada. O status de maior portal do país que tem a Globo.com e, claro, a possibilidade de entrega multiplataforma do Globoplay.
É esse pacote de entrega adicional de conteúdo, que não está relacionado ao número de eventos ao vivo que serão exibidos em TV aberta, que faz nenhuma outra empresa de mídia, no Brasil, ser igual à Globo.
E a Globo sabe, como nenhuma outra empresa de mídia no Brasil, que esse é o maior diferencial dela na promoção do esporte. Não foi por acaso que neste 2025 a empresa voltou a acelerar a cobertura de F1 em suas plataformas. Em meio a uma negociação, era uma forma de ela mostrar que menos, no caso dela, é mais.
O fanático não precisa de promoção do produto. O segredo é buscar o consumo de quem não o conhece. Essa é a lógica que o esporte brasileiro não consegue entender. E que ajudou a pautar o sucesso da Globo na negociação para voltar a transmitir a Fórmula 1.
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