Em janeiro, em seu discurso de posse na presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Marco Antonio La Porta afirmou: “Para ser uma potência olímpica, o Brasil precisa antes ser uma nação esportiva”. Concordo com a frase em gênero, número e grau. Nosso país tem um imenso potencial esportivo e que vai muito além do futebol, como sinalizam êxitos no vôlei, no judô, na natação e, mais recentemente, na canoagem, no skate e na ginástica artística. Mas esses brilhos só deixarão de ser pontuais quando o chamado “país do futebol” se apaixonar de verdade pelo esporte e pela sua imensa e rica gama de modalidades.
Parafraseando La Porta, os cerca de 40 mil associados do Esporte Clube Pinheiros formam uma nação esportista. Aqui somos apaixonados por esporte. O caminho dessa transformação passa por um cuidadoso trabalho de formação. O Pinheiros é o clube brasileiro com o maior número de medalhas olímpicas, o que nos enche de orgulho. Mas nosso compromisso maior é formar esportistas. Aqueles que competem e, sobretudo, aqueles que adotam o esporte como atividade para a vida e usufruem dos seus inúmeros e conhecidos benefícios.
Eis aí uma contribuição tão valiosa para o país quanto as medalhas e títulos que já conquistamos. E que pode pavimentar o caminho sinalizado pelo presidente do COB. O esporte é trabalhado no clube a partir dos preceitos da Filosofia Integrada Pinheiros. Seu ponto principal é desenvolver a cultura esportiva na criança desde cedo, mas sem especialização em uma modalidade ou cobranças por resultados. Ao contrário: a intenção é oferecer práticas esportivas diversificadas, lúdicas, respeitando cada etapa de maturidade dos pequenos, ampliando as suas experiências motoras, psicossociais e cognitivas.
É uma formação a longo prazo, em que o desenvolvimento esportivo acontece de forma gradual e natural. A paixão pela atividade esportiva vem primeiro. O atleta, depois. Dos 3 aos 6 anos, período de formação motora, são trabalhados movimentos como correr, saltar, rolar e arremessar, entre outros; dos 7 aos 10 anos, é a fase da experimentação, da criança saborear as diversas modalidades; dos 11 aos 14 anos, é quando vai se definindo a predileção e aptidão por um esporte específico.
A partir dos 14 anos, o adolescente tem dois caminhos: pode partir para a especialização em uma modalidade e, posteriormente, pela carreira de atleta. Já tem maturidade suficiente para encarar os desafios e pressões do ambiente competitivo. Ou, então, seguirá seu caminho tendo, com grande probabilidade, o esporte como um companheiro constante de jornada.
O nosso jeito de ver o esporte está baseado em evidências de consenso internacional. Estudos mostram que países que sempre apostaram em modelos priorizando a especialização esportiva precoce e resultados já na base, como os Estados Unidos, apresentam historicamente uma alta taxa de abandono esportivo na adolescência e um índice menor de atividade física na vida adulta. Na outra ponta, países como Noruega, Austrália, Canadá e Reino Unido, entre os primeiros a adotar as práticas que inspiram a filosofia esportiva do Pinheiros, ganharam paulatinamente uma população mais saudável e ativa fisicamente.
E houve reflexo também no alto desempenho. A Noruega, por exemplo, lidera há três edições consecutivas o quadro de medalhas dos Jogos de Inverno. E, neste ano, o país aparece em primeiro lugar no ranking elaborado pelo portal Greatest Sporting Nation que, entre outros dados, relaciona resultados em Olimpíadas e Campeonatos Mundiais com o tamanho da população (os noruegueses somam 5,5 milhões de pessoas). Em 2024, o país nórdico terminou na 2ª colocação do ranking, enquanto os Estados Unidos, que têm 341 milhões de habitantes, ficaram em 46º lugar.
Os desafios da formação esportiva no Brasil são como uma corrida com barreiras, bem mais longa e acidentada do que os tradicionais 400 metros que consagraram o nosso Alison dos Santos, o Piu. Ainda enfrentamos sérios problemas de infraestrutura, falta coordenação às políticas públicas voltadas ao esporte e falta também uma cultura esportiva variada, capaz de despertar o prazer e o gosto pela atividade física na criança, como acreditamos ser o caminho. Nessa quadra específica, nós, do Pinheiros, temos muito a contribuir.
Carlos Alexandre Brazolin é presidente do Esporte Clube Pinheiros