Com os grandes torneios na reta final em 2025, a Federação Paulista de Futebol (FPF) anunciou o novo Campeonato Paulista de 2026 nesta terça-feira (11), adequando-se ao novo calendário do futebol brasileiro instituído pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no início do mês passado, com quatro grandes desafios:
- Fazer o torneio inteiro caber em 12 datas (eram 16 até 2025);
- Manter o alto interesse do público, mesmo com o Brasileirão começando também em janeiro de 2026;
- Manter o torneio, como produto, com alto valor comercial e audiência; e
- Evitar que os times grandes usem a competição como pré-temporada.
No vídeo de apresentação do novo formato, Amaral, Cleber Machado, Andre Henning e Luis Felipe Freitas debateram, divertidamente, as novidades do modelo, que começa soando esdrúxulo (os times se enfrentam todos dentro de cada pote, mas só enfrentam alguns times dos outros potes), evolui para “um modelo inspirado na Champions League” e termina com “é o Paulistão inventando, inovando e acertando”.
Mas o que tem de errado com o modelo inventado e inovado? A resposta é: depende.
Em termos televisivos, fazer com que os quatro grandes clubes paulistas se enfrentem na primeira fase significa que haverá seis clássicos nas oito primeiras rodadas, o que estimula audiência, rivalidade e presença de público nos estádios, além de minimizar o uso dos reservas ou do time Sub-20 nesses jogos.
Qual é o problema então?
Que o Paulistão criou um modelo de cabeças de chave às avessas: ser grande significa um caminho mais difícil rumo à fase de mata-mata do que ser pequeno. Na Copa do Mundo, os times com ranking mais alto são “poupados” de pegar pedreiras na fase de grupos, e os clássicos normalmente acontecem nas fases de quartas de final, semifinais e na final, em que, aí sim, os grandes medem forças.
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Para dar um exemplo, separei os adversários de São Paulo e Noroeste na primeira fase do Paulistão 2026 (ainda sem ordem ou mando de campo).
O São Paulo jogará contra Santos, Palmeiras, Corinthians, Mirassol, São Bernardo, Portuguesa, Ponte Preta e Primavera. Ou seja, quatro times da Série A do Brasileirão, dois da Série C (mas que garantiram o acesso e jogarão a Série B em 2026), um da Série D e um estreante na Série A do Paulistão.
O Noroeste, por sua vez, enfrentará Santos, Red Bull Bragantino, São Bernardo, Velo Clube, Ponte Preta, Botafogo-SP, Primavera e Capivariano. Isto é: dois clubes da Série A (um deles correndo o risco de cair para a Série B), um da Série B (que corre o risco de cair para a Série C), dois da Série C (mas que garantiram o acesso e jogarão a Série B em 2026) e três clubes que têm o Paulistão como principal torneio do ano.
Considerando-se que, entre os 16 participantes, apenas os oito melhores se classificarão para as fases decisivas e se o formato lembra “Robin Hood” e seu modelo de tirar dos grandes para oferecer aos pequenos, por que os quatro maiores clubes do estado toparam participar?
“It’s the economy, stupid!” (“É a economia, seu idiota!”, em tradução livre).
Baseado no modelo de 2025, São Paulo, Corinthians, Santos e Palmeiras garantem pelo menos R$ 44 milhões cada um por participarem desses oito primeiros jogos, com um pequeno bônus adicional ao campeão de R$ 5 milhões. Ou seja: no Paulistão, o importante é participar.
Isso contrasta fortemente com a Copa do Mundo de seleções, em que apenas participar rendeu para cada seleção pouco menos de R$ 7 milhões no Catar em 2022. Em compensação, a campeã Argentina levou R$ 196 milhões. Isto é: na Copa, o que vale é o mérito esportivo.
Isso não significa que o Paulistão será, na verdade, um Paulistinha em 2026, mas cravar que ele “inventa, inova e acerta” é no mínimo uma aposta arriscada.
O artigo acima reflete a opinião do colunista e não necessariamente a da Máquina do Esporte
David Pinski é executivo de marketing há mais de 20 anos, tendo passado por marcas de diversos segmentos e perfis, como Havaianas, Nestlé, Garoto, Nescau, Perrier, Estrela e Francis. Foi responsável pelo projeto de patrocínio de Garoto e Nestlé na Copa do Mundo de 2014 e escreveu uma série de colunas para a Máquina do Esporte diretamente da Rússia e do Catar nas Copas de 2018 e 2022
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