No meu último texto, escrevi sobre os 26 motivos para acompanhar a Copa do Catar. Infelizmente, o Brasil perdeu nas quartas de final, e a Copa acabou para os brasileiros. Agora, com humildade e respeito aos semifinalistas, exercerei a função de admirador do futebol e profissional do mercado de marketing esportivo para assistir aos jogos que decidirão o campeão.
As quatro possibilidades têm histórias ricas e emocionantes. Seja a Croácia com o título inédito após um vice-campeonato em 2018, seja o bicampeonato seguido da França que não acontece desde 1962 com o Brasil, seja a Argentina coroando um dos maiores jogadores de todos os tempos (Messi), ou a incrível e improvável conquista inédita de uma seleção africana (Marrocos).
Seja qual for o resultado, a Copa do Mundo da Fifa deixará saudade após o encerramento da edição do Catar. Entretanto, poucas vezes na história do futebol a população mundial viveu uma transição entre duas edições de Copa do Mundo com tamanha expectativa. Talvez em 1950, após anos de interrupção pelas duas grandes guerras mundiais. Mas nem mesmo em 1982, quando a Fifa expandiu para 24 equipes, ou em 1998, quando ampliou-se para 32 seleções, a excitação com a próxima Copa tenha sido tão forte. A abertura das fronteiras em 2002, quando Japão e Coreia do Sul sediaram a primeira Copa na Ásia, foi um marco. Assim como a celebração de 2010 na África do Sul, com a presença de Nelson Mandela, provavelmente o maior anfitrião de uma Copa do Mundo.
Ainda assim, o ciclo de espera pela Copa do Mundo Fifa em 2026 será um marco para o futebol mundial e há várias razões para uma excitação global:
– Sede tripla: será a primeira vez que uma edição acontecerá em três países diferentes: EUA, México e Canadá. Ao todo, 16 cidades receberão jogos da Copa e serão impactadas diretamente pelo evento, movimentando a economia das três nações.
– Seleções participantes: a Fifa estreará uma Copa do Mundo com 48 equipes. Isso significa que, muito provavelmente, todas as principais nações do mundo estarão representadas, incluindo as tradicionais forças do futebol e também as principais economias. Garantia de mais audiência, mais turistas e mais impacto econômico.
– Estrutura: inegavelmente, EUA, México e Canadá tranquilizarão a Fifa com uma das melhores estruturas para receber uma edição do Mundial. Estádios modernos, com operações testadas, oferecerão conforto e experiência de altíssima qualidade aos torcedores. A logística terá ótima infraestrutura de aeroportos e uma rede hoteleira vasta para acomodar turistas dos cinco continentes. Pequenas reformas ou revitalizações poderão ocorrer, porém não haverá corrida contra o tempo para terminar obras de novos estádios.
– Mercado econômico: México, Canadá e EUA garantirão um pacote enorme de receitas com patrocínios (globais, regionais e locais) e direitos de mídia. Considerando a relevância e o impacto do mercado consumidor americano para as principais marcas mundiais, o sucesso comercial dessa edição é uma certeza para a Fifa e os comitês organizadores da Copa de 2026, com um detalhe especial para a disputa da Adidas com a Nike.
– Direitos humanos: acredito que a Fifa terá um cenário favorável para corrigir alguns erros das últimas duas Copas, quando sediou o evento em países com leis e comportamentos restritivos para os direitos humanos. Em 2026, a entidade poderá celebrar a diversidade com países-sedes que reconhecem legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
– Uso recreativo de cannabis: a legalização do uso da maconha para fins recreativos será uma nova realidade para a Fifa. Nada menos que 10 das 16 cidades-sedes já possuem a liberação do consumo da maconha, ou seja, a festa estará completa (com moderação). Será que teremos um patrocinador local? Cannabis oficial da Copa do Mundo?
– Uma cerveja, por favor! Na terra do Tio Sam, a Budweiser e a Fifa terão livre circulação. Cerveja com álcool estará liberada nos estádios, nos arredores, nos bares e nos hotéis. Os torcedores agradecem, e as marcas também.
– Celebridades e influenciadores: para quem acompanha as principais ligas americanas (NBA, NFL, MLB, MLS e NHL), sabe que a presença de celebridades nas quadras e nos estádios é constante e faz parte do espetáculo. Na Copa do Mundo de 2026, a Fifa precisará de mais camarotes, tribunas, áreas vips e hospitalidade para acomodar tantas estrelas e autoridades. Todo mundo vai querer participar.
– Heróis de chuteiras: nenhum país do mundo tem a capacidade dos EUA de transformar um atleta em ícone mundial com tanta magnitude. Será um momento único para astros do futebol mundial se consagrarem no maior mercado esportivo do planeta. Isso poderá influenciar a prática do futebol por crianças americanas, ampliar o valor da modalidade no mundo, projetar novas estrelas e alavancar a MLS para um novo ciclo de crescimento exponencial.
– Tempero mexicano: ninguém questiona a paixão dos mexicanos pelo futebol. Em 1986, os torcedores encantaram o mundo com a “ola” nos estádios. Em 1970, o mundo reverenciou o maior atleta de todos os tempos: Pelé. Agora, o México receberá a Copa pela terceira vez: o que será que nossos amigos latinos estão preparando para 2026?
– Final em Nova York: alguém tem ideia do tamanho do impacto que será uma final de Copa do Mundo Fifa em Nova York? Vale dizer, no entanto, que isso ainda não está definido.
A Copa do Catar nem acabou, e o mercado já está olhando para o outro lado do Oceano Atlântico. Que vença o melhor neste domingo (18) porque, no dia 3 de julho de 2026, o Brasil estará em campo na cidade do Cosmos do Rei Pelé.
Alvaro Cotta é diretor de marketing da Liga Nacional de Basquete (LNB) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte