Em 2010, quando uma manobra política, com respaldo jurídico, fez com que Juvenal Juvêncio conseguisse seu terceiro mandato seguido no São Paulo, o Tricolor Paulista era aparentemente o exemplo a ser seguido no futebol brasileiro.
Campeão do mundo em 2005 e, nos três anos seguintes, primeiro tricampeão brasileiro seguido da história, o São Paulo usava seu status de “Soberano” para justificar o injustificável. Juvenal precisou articular concessões políticas para afrontar o estatuto do clube. E, assim, manteve-se para outros três anos no poder máximo.
Foi ali que começou a andar para trás todo o modelo aparentemente bem-sucedido do São Paulo. Foi desde aquele momento que o clube acumulou dívidas, perdeu o foco dentro de campo e, passados 15 anos, conquistou apenas três títulos. E agora soma um escândalo atrás do outro nos bastidores.
A afronta da vez é o vazamento de conversas que mostram um esquema ilegal de comércio de ingressos para um camarote envolvendo Mara Casares, ex-mulher do atual presidente, Julio Casares, e Douglas Schwartzmann, diretor-adjunto das categorias de base.
O escândalo mostra como, em pouco mais de uma década, aquele que era o clube mais vanguardista do futebol brasileiro virou palco para negociatas nas mais diferentes áreas.
E esse é o grande mal que precisa ser combatido não apenas no São Paulo, mas em boa parte dos clubes associativos do Brasil.
O conceito de que a política está sempre acima do negócio interrompe qualquer trabalho que tem dado resultado. Dentro e fora de campo. Só que a queda não é imediata.
O título da Copa do Brasil em 2023 foi um acaso em meio a 12 anos de desmandos e descontroles no São Paulo. A origem de tudo isso veio do terceiro mandato de Juvenal Juvêncio. Hoje, o são-paulino assiste, de camarote, à derrocada do seu clube.
Fazer o Tricolor Paulista virar Sociedade Anônima do Futebol (SAF) parece ser o atalho mais curto para tentar encontrar uma saída. O problema é que, quando há uma grande necessidade de se vender, o negócio dificilmente atinge o melhor valor possível.
Qualquer que seja o cenário após a terra arrasada, uma coisa é certa. O São Paulo passa pelo que ele mesmo plantou há 15 anos. E a única saída é fazer com que a política tenha como interesse maior o bem do clube, não o do dirigente.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo
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