Na minha coluna do mês passado, abordei sobre a “formação integral no futebol”, questionando se estamos de fato preparando os atletas brasileiros para o futuro. Hoje, conecto essa discussão com uma experiência recente que vivenciei na Espanha e que considero de grande valor para os gestores que compõem a audiência da Máquina do Esporte.
Passei uma semana participando do programa “LaLiga Week”, desenvolvido pela Federação Paulista de Futebol (FPF) em parceria com a LaLiga Business School. Durante esse período, tivemos a oportunidade de realizar visitas e dialogar com gestores de clubes espanhóis de diferentes portes e capacidades de investimento. Além disso, gestores da LaLiga nos apresentaram direcionamentos estratégicos de diversas áreas do futebol da Liga Espanhola. “Rebranding” da marca LaLiga, ativação de patrocínios, estratégias de comunicação digital e engajamento com os fãs foram alguns dos temas abordados.
O ponto focal que une a vivência dentro das salas da LaLiga Business School com as visitas e diálogos nos clubes é o seguinte: a engrenagem central dessa indústria gigantesca é o atleta, suas entregas esportivas e para além do campo.
Essa ideia conecta muito bem com a necessidade de garantir uma formação integral do atleta. Tanto a LaLiga quanto nós, gestores do “país do futebol”, temos dedicado esforços consideráveis a esse propósito.
José Moya, diretor da LaLiga Business School, compartilhou o que tem sido feito para ampliar a formação e a compreensão do atleta sobre suas entregas extracampo. Ele nos apresentou um curso desenvolvido para atletas, o Global Player Program, e, entre os argumentos apresentados por ele para ressaltar a relevância de um programa como esse, destaco esta parte: “tratamos para que o atleta de futebol entenda o que se passa ao seu redor, afinal, um atleta de futebol entra em um estádio e vê publicidade e outras coisas e as logomarcas atrás de onde ele vai dar entrevistas. Ele imagina o que é, mas é bom explicar. Há muito investimento na produção das partidas. A LaLiga investe para que o produto na televisão possa ser visto em todo o mundo com muita qualidade. O jogador, que é o ator principal de tudo isso, deve saber um pouco sobre como tudo acontece e o porquê de todas as ações feitas em uma partida”.
Ele ainda ressaltou que, a partir desse entendimento, o atleta será mais capaz de aproveitar as oportunidades relacionadas à sua carreira para além do campo, enquanto os holofotes estão voltados para ele. Essa visão ampliada da gestão da própria carreira permite que o atleta aumente seu potencial de capitalizar o momento atual gerando novos negócios e também construa relacionamentos sólidos que abrirão portas quando a carreira dentro dos campos chegar ao fim. Já abordei aqui que a jornada profissional de um atleta é muito mais curta (dura em média 15 anos) do que a jornada de profissionais em outras áreas de atuação.
Não seria preciso atravessar o oceano para compreender aspectos como esses colocados neste artigo, mas, já que tive acesso a uma liga que pode ser considerada um exemplo a ser seguido em vários aspectos, fiz esse compartilhamento na expectativa de ser um elemento a mais na direção da profissionalização da gestão do nosso futebol e um estímulo para que se coloquem, a cada dia, mais esforços e recursos em estratégias eficientes de formação integral do atleta, bem como em aspectos ligados ao potencial do futebol para além do campo.
Nesse contexto, estimulo a compreensão de que as oportunidades gigantescas que estão à disposição da indústria do futebol brasileiro incluem a visão do jogo em si, que é uma paixão nacional, como não apenas uma atividade esportiva, mas também como uma plataforma para impulsionar o desenvolvimento social, criar conteúdo, proporcionar entretenimento, estabelecer conexões de valor com marcas de diversos setores e explorar um mercado de licenciamento de produtos e franquias. Cada um desses elementos desempenha um papel importante e contribui para o ecossistema da indústria do futebol.
Ana Teresa Ratti possui mais de 20 anos de experiência corporativa, é mestra em Administração, trabalha atualmente com gestão esportiva, sendo cofundadora da Vesta Gestão Esportiva, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte