“Onde passará o Corinthians?”
“Quem transmitirá a Libertadores hoje?”
Essas dúvidas são cada vez mais comuns entre os torcedores brasileiros. Há pouco tempo, quem acompanhava os campeonatos, seja do Brasil ou do exterior, tinha uma noção razoável em que canal cada jogo seria transmitido. Atualmente, para seguir seu time do coração, é necessário dar um Google para descobrir quem exibirá o jogo.
Além dos canais tradicionais na TV aberta e na TV fechada, as plataformas de streaming experimentam uma rápida popularização no Brasil, alavancadas por empresas internacionais consolidadas como Amazon, Paramount, Disney e Warner Bros. Discovery.
Quem gosta de esporte tem à disposição um cardápio cada vez mais amplo de atrações e com uma multiplicidade de canais superior à que vivemos no auge das emissoras esportivas da TV fechada de alguns anos atrás.
Mas quais são as tendências que vislumbramos nesse mercado? Vejamos algumas delas.
Direitos fatiados
Os direitos estão cada vez mais fatiados entre canais e plataformas. E ficarão ainda mais.
Prova disso veio da Globo, que adquiriu para este ciclo de Copa do Mundo um pacote menor de partidas. No Catar 2022, foram exibidos os 64 jogos da competição na TV aberta, sendo 56 ao vivo e 8 em VTs (por serem disputados simultaneamente na última rodada da fase de grupos).
Para a Copa do Mundo 2026, o Grupo Globo adquiriu 52 partidas, incluindo todas as da seleção brasileira (caso se classifique). Esses duelos serão divididos entre Globo (TV aberta) e Sportv (TV fechada).
No entanto, o Mundial terá pela primeira vez 48 seleções e 104 jogos. Isso quer dizer que a estratégia da Fifa para o Brasil daqui três anos terá direitos ainda mais divididos do que em 2022.
Embora até o momento se saiba que apenas Globo e Sportv têm esses direitos, é provável que a federação que comanda o futebol continue apostando no Fifa+ e dê visibilidade ao torneio em plataformas de streaming como a Cazé TV ou em outras que ainda nem surgiram.
Mais atrações
A ampliação do número de canais de distribuição aumenta o leque de eventos exibidos para um público cada vez mais ávido. Um exemplo é a Série C do Brasileirão, que historicamente teve dificuldade para ganhar visibilidade, mas que neste ano está no DAZN, no Nosso Futebol e no recém-criado canal Goat.
O Goat, aliás, garantiu os direitos de transmissão do recém-cobiçado Campeonato Saudita, que estará repleto de atrações nesta temporada, como Cristiano Ronaldo, Karim Benzema, Roberto Firmino, Fabinho, N’Golo Kanté e Sadio Mané, entre outros jogadores que brilharam nos gramados da Europa. As transmissões serão no YouTube, Facebook, TikTok e OneFootball.
Já a MLS, que atrai as atenções com a transferência de Lionel Messi ao Inter Miami, é exclusiva da Apple TV, que conta com o serviço pago MLS Season Pass. É outro campeonato que gerava pouco interesse, mas que agora deve ter recorde de audiência no Brasil.
Anunciantes
Parafraseando Caetano Veloso, surge a pergunta: “Quem vê tanto canal?”
Por enquanto, o público tem respondido bem às iniciativas, embora ainda seja difícil dimensionar a audiência desses canais e o quanto eles impactam no ibope das mídias tradicionais.
Com o interesse gerado no público, surgem os anunciantes. Há casos de muito sucesso, como a Cazé TV, que vendeu todas as suas cotas comerciais para a Copa do Mundo Feminina, incluindo pesos-pesados da indústria, como Ambev, Cielo, Claro, Itaú e Visa, repetindo, assim, o sucesso obtido no Mundial do Catar.
Mas há anunciantes de peso para que esses canais se tornem sustentáveis? Em um setor muito fragmentado, é um desafio para os departamentos comerciais conseguir fechar suas cotas de patrocínio.
Façam as apostas!
Há espaço para todo mundo? O tempo dirá. Um alento para as novas plataformas foi a regulamentação das apostas no Brasil. Espera-se que esse segmento, hoje importante para a indústria esportiva nacional, aumente investimentos em publicidade e marketing.
Mas, em um mercado extremamente competitivo e, hoje, cheio de marcas, os anúncios só permanecerão nos canais que trouxerem retorno financeiro para as empresas.
Com a regulamentação, porém, muitos players podem deixar o mercado brasileiro por insatisfação com as regras ou por conta da tributação que será seguida por aqui. Quem não se regulamentar estará impedido de fazer publicidade, diminuindo o montante a ser investido.
Concentração
Como em todo setor da economia, a tendência, com o passar dos anos, é que tenhamos uma concentração. Algumas plataformas perecerão por não terem condições de investir em direitos de mídia de competições importantes. E, ao não tê-las, perderão a capacidade de atrair anunciantes.
Outras podem ser compradas por canais maiores, algo que já vivenciamos na TV fechada alguns anos atrás.
O que é fato é que, ao final desse processo, a ascensão do streaming terá aumentado a quantidade de plataformas, torneios e eventos disponíveis ao torcedor em relação ao período em que a TV fechada dominou esse mercado.
Adalberto Leister Filho é diretor de conteúdo da Máquina do Esporte