Em uma nota divulgada nesta segunda-feira (1º), John Textor, proprietário da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Botafogo, garantiu que há manipulação de resultados no futebol brasileiro. Em suas próprias palavras, afirmou estar “preparado para demonstrar combinações entre árbitro de campo e árbitro de vídeo, que claramente participaram de manipulação de jogos, com erros graves de arbitragem para garantir o resultado manipulado”.
O texto divulgado não chega a ser novidade considerando que o empresário tem por hábito falas fortes e, não raramente, imprecisas. Obviamente, Textor erra por cravar algo tão grave sem apresentar provas cabais. Ou ainda as tem e apenas não mostrou ao grande público, sendo essa sua grande cartada, ou efetivamente não as tem. E seu erro terá sido ainda pior.
O mais curioso nesse momento, no entanto, é que o episódio nos oferece dois claros aprendizados sobre reputação. Primeiro: se fosse outro(a) executivo(a), menos “folclórico” que o norte-americano, mesmo sem a imediata apresentação de provas, a reação em massa seria diferente diante da (frágil) denúncia? Como Textor já ocupou para a sociedade, em tão curto tempo, esse espaço de falas absurdas que o desqualificam imediatamente ao propagá-las, partindo para o quase completo descrédito?
Segundo, e mais importante: quando foi que nosso nível de confiança no futebol brasileiro encontrou tanta força para termos certeza de que questionar a credibilidade do Brasileirão só pode ser uma grande piada? Tivemos experiências tenebrosas no Brasil neste mesmo século em que estamos. Tivemos o episódio da “Máfia do Apito”, quando 11 jogos do Brasileirão 2005 foram anulados e precisaram ser repetidos. Assistimos também à operação “Penalidade Máxima”, menos de um ano atrás, com jogadores envolvidos em esquema de apostas em jogos das Séries A e B do Brasileirão. Se no Brasil vivemos um país de democracia jovem e, portanto, ainda frágil, como falar de um futebol brasileiro incapaz de ser novamente atravessado por manipulação?
Até por isso, mesmo com tais lembranças, é absolutamente natural e eticamente correto que clubes e atletas reajam com aspereza, afinal, as falas de Textor atingem suas próprias reputações.
É importantíssimo deixar claro que este que vos escreve também está no grupo que confia no futebol nacional. O que causa surpresa é nossa pronta e absoluta oposição à possibilidade de uma nova manipulação no futebol brasileiro. Aqui, somente entre nós, seria realmente surpreendente? Desqualificamos Textor por desacreditarmos na menor hipótese de manipulação ou por não acreditarmos em Textor, independentemente do que ele diga?
Se sobre compliance e legalidade não há lições a aprendermos neste episódio, sobre reputação há muitas e nítidas.
Vinicius Lordello é diretor de inteligência da Máquina do Esporte, professor na CBF Academy e especialista em gestão de reputação e crises no esporte