Nos últimos dias a possível criação de uma liga de clubes, para organizar o campeonato brasileiro de futebol, ganhou novos capítulos. Ambos os lados se aproximaram de acordos comerciais relevantes e um novo bloco apareceu, formado por clubes que não estavam contentes com os rumos da Libra, mas não quiseram se juntar ao Forte Futebol.
Apesar dos dois grupos (agora três) contarem com pessoas, empresas e projetos muito sérios, a impressão que passa para nós torcedores é que a formação de uma liga está cada vez mais distante. O consenso necessário entre os clubes dá a impressão de estar muito mais muito longe de ser alcançado. Falando em torcedor, o que você acha da possível criação de uma liga de clubes?
Aliás, alguém já fez essa pergunta para você? Ou melhor, quando foi a última vez que você respondeu uma pesquisa do seu clube de coração sobre qualquer tema? A criação de uma liga gerida pelos próprios clubes seria uma grande transformação no futebol brasileiro, portanto faz-se fundamental a participação na discussão do maior interessado na melhoria do esporte, nós torcedores.
Ouvir, dialogar e entender profundamente o seu público é premissa básica em qualquer indústria. Marcas tradicionais investem fortunas em pesquisas de mercado, mapeamento de jornadas, estudos de comportamento, ferramentas de diálogo, análise de dados e muitos outros processos e utensílios para não só se aproximar dos seus consumidores, mas também para colocá-los no centro das tomadas de decisões do seu dia a dia. Ou vocês acreditam que a Apple lança um novo Iphone sem saber exatamente o que o seu público quer? Ou que a Harley-Davidson não conhece profundamente o seu público, por isso mantém as características e ronco das suas motos há mais de cem anos?
Manter uma certa distância e conversar pouco com a sua torcida não é uma característica exclusiva do futebol brasileiro, o maior exemplo desse distanciamento e falta de diálogo vimos recentemente com a tentativa frustrada de criação da Superliga de Clubes da Europa. Dirigentes dos 12 maiores clubes do mundo pensaram que seria uma sacada de mestre criar um campeonato Europeu de Clubes no qual estivessem sempre classificados e acertaram tudo sem nenhuma divulgação ou conhecimento dos seus aficionados. O que parecia ser genial para os cartolas caiu como uma bomba entre os seus torcedores, quando foi anunciado em abril de 2021. A fúria das torcidas, principalmente inglesas, contra os seus próprios clubes foi tamanha que, em menos de 48 horas, 9 clubes já tinham pedido o desligamento da tal Superliga.
Após esse episódio os clubes ingleses passaram a tentar se aproximar dos seus torcedores, criando novas ferramentas de diálogos, representatividades na diretoria, parlamentos de torcedores e até dando assento nas reuniões de diretoria. Hoje os clubes tradicionais, que até pouco tempo mantinham uma certa distância da sua torcida, discutem abertamente com seus torcedores sobre temas relevantes, construindo assim um ambiente mais saudável entre clubes e torcidas. Entre os clubes ingleses dificilmente veremos outro episódio de criação de qualquer liga sem o envolvimento de representantes de suas torcidas.
Contratos com investidores, divisão de receitas, negociações coletivas e todos os outros aspectos financeiros são muito importantes para a criação de uma liga no Brasil, mas eles não podem se sobrepor às vontades e desejos de suas torcidas. O melhor projeto entre os 3 grupos não vai ser aquele que tenha mais dinheiro e sim aquele que tiver o maior envolvimento do principal interessado, nós torcedores, na busca por soluções e saídas para o desenvolvimento do futebol nacional.
Romulo Macedo é chefe de operações de mídia e serviços de notícias dos Jogos Pan-Americanos e Parapan-Americanos de Santiago 2023 e escreve mensalmente na Máquina do Esporte